
Alex Silva/AE
"Gui Lin só perdeu um jogo no Brasil em três anos"
A chinesa naturalizada brasileira Gui Lin, de 18 anos, foi convocada segunda-feira para participar do torneio por equipes dos Jogos Olímpicos de Londres. Mas só à tarde, quando buscou o passaporte que enfim ficou pronto, ela se sentiu uma atleta olímpica. 'Foi só naquele momento que a ficha caiu', diz a mesa-tenista, que quase chegou a desistir. Como não podia representar a Seleção Brasileira, ela participava mais de competições como os Jogos Abertos e os Jogos Regionais.
A convocação de Lin provocou indignação em Jessica Yamada e em seu pai, Marcos, que é treinador de tênis de mesa e representante da marca Butterfly, especializada em artigos da modalidade. Jessica está mais bem ranqueada, mas Lin estava impossibilitada de defender o País em competições internacionais e de subir na lista.
'Não sei como uma vaga olímpica pode cair no colo de alguém dessa maneira. Se naturalizassem uma chinesa que fosse para lá ganhar medalha eu ficaria calado. Mas ela é igualzinha à Jessica, só um pouquinho melhor. Então deixa quem trabalhou o ciclo olímpico inteiro ir para a Olimpíada', diz Marcos.
O presidente da CBTM (Confederação Brasileira de Tênis de Mesa), Alaor Gaspar Azevedo, acha que as reclamações de Yamada não fazem sentido. 'Não há como comparar uma jogadora com a outra. A Gui Lin perdeu um jogo no Brasil nos últimos três anos (para a amazonense Lígia Azevedo). Tecnicamente, ela é muito melhor. E a Jessica teve todas as condições para conseguir a vaga na mesa', diz o dirigente, referindo-se ao Pré-Olímpico do Rio em março.
Alaor salienta ainda que o caso de Lin é diferente dos de e uma legião de chineses que se naturalizaram apenas para participar de grandes competições, sem terem nenhum laço de afinidade com a pátria adotiva. 'A Gui Lin mora no Brasil desde os 11 anos de idade e fala português. Tive várias oportunidades de naturalizar chineses até mais bem ranqueados, mas isso desanimaria as jogadoras do Brasil e interromperia o desenvolvimento do esporte aqui.'
Os Yamada ainda têm uma esperança, e ela se chama Brasil Open, que será disputado mês que vem, em Santos. Segundo Marcos, o técnico da Seleção Brasileira, Lincon Yasuda, prometeu a Jessica alterar a convocação caso ela vá bem na competição. 'É por isso que não vou chutar o pau da barraca agora', diz Marcos, que armazena denúncias para o momento certo.
Treinada por Hugo Hoyama, Gui Lin se sente a cada dia menos estrangeira, e já torce até por um time de futebol local, o Palmeiras, que apoia a equipe de tênis de mesa de São Bernardo do Campo. 'Nunca vou esquecer a China, vim com a cultura de lá para cá, mas aprendi a cultura daqui e misturei', diz, em bom português, a mesa-tenista que sonha 'dar trabalho' às chinesas em 2016.
Hoyama, que ainda joga e também vai a Londres, treina apenas Gui Lin, exatamente na mesma sala onde começou a praticar o esporte, ao lado do estádio de futebol Primeiro de Maio, aos sete anos de idade. 'A Gui tem um estilo bonito. Seus movimentos não são tortos, e ela é rápida. Quero que ela seja um referencial para as outras meninas.'
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