quinta-feira, 17 de maio de 2012

HISTÓRIA DAS OLIMPÍADAS XVI



Munique, 1972

Gigantismo se esconde atrás de terrorismo, que deixa 18 mortos e mancha Olimpíada alemã


A Olimpíada de Munique imaginava ficar na história por seu gigantismo, mas ficou marcada pela matança de 18 pessoas, entre atletas israelenses, terroristas palestinos e policiais. Pela primeira vez, o maior evento esportivo do mundo foi paralisado. Cogitou-se suspender os Jogos, mas o Comitê Olímpico Internacional decidiu manter a programação original.
O mundo se comoveu na manhã do dia 5 de setembro, quando um grupo de terroristas palestinos da organização Setembro Negro invadiu a Vila Olímpica de Munique e ingressou nos dormitórios da delegação israelense. Duas pessoas foram assassinadas imediatamente e outras nove foram feitas reféns do grupo. Os terroristas pediram a libertação de 200 árabes prisioneiros em Israel e ameaçaram executar dois reféns a cada hora.
As competições tiveram que ser suspensas enquanto aconteciam as negociações entre os palestinos e as autoridades alemãs. A Vila Olímpica foi cercada por 4.000 policiais. Com a chegada da noite, a polícia convenceu o comando a seguir para o Cairo (Egito). Dois helicópteros partiram com os oito palestinos e os nove reféns em direção ao aeroporto militar. Na chegada ao aeroporto, a polícia lançou um ataque que resultou em verdadeiro fracasso: morreram 18 pessoas, entre elas os nove reféns, cinco terroristas palestinos, um policial e o piloto de um dos helicópteros.
O incidente paralisou os Jogos por 34 horas. Holanda e Noruega abandonaram a competição, mas depois desistiram da ideia. Até o presidente do Comitê Organizador dos Jogos, o alemão Willi Daume, pediu o cancelamento definitivo do evento, mas o COI decidiu continuar a Olimpíada. Em homenagem aos mortos, foi realizada uma cerimônia no estádio de Munique. A competição prosseguiu, mas sem o mesmo brilho.
Os Jogos de 1972, no coração da Baviera, marcaram o início do gigantismo nas Olimpíadas. A Vila Olímpica tinha capacidade para 16 mil pessoas, e o estádio, com 75 mil m², era uma inovadora obra de arquitetura, com seu teto suspenso de lona transparente.
Dois bronzes para o Brasil
O Brasil participou com quase o mesmo número de atletas da edição anterior, 89 contra 84 na Cidade do México. Presente outra vez em 13 modalidades, os brasileiros conquistaram duas medalhas de bronze.
No atletismo, e mais uma vez no salto triplo, o Brasil chegou ao pódio com Nelson Prudêncio. Prata na Cidade do México-1968, Prudêncio saltou 17,05 m em Munique, contra os 17,35 m do vencedor, o soviético Viktor Saneyev. A prata ficou com o alemão oriental Joerg Drehmel, que saltou 17,31 m.
No judô, o Brasil ganhou o bronze com Chiaki Ishii, na categoria meio-pesado. O atleta também disputou a categoria absoluto, terminando na sétima colocação. O japonês naturalizado brasileiro é pai de Vânia Ishii, medalha de ouro no Pan de Winnipeg-1999 e prata no de Santo Domingo-2003, na categoria meio-médio.
Nos esportes coletivos, os brasileiros não foram bem. Além do futebol, eliminado na primeira fase, no basquete e no vôlei as equipes masculinas terminaram em sétimo e oitavo lugares, respectivamente.

FICHA


Países participantes
121
Número de modalidades
23
Número de atletas
7.134 (6.075 homens, 1.059 mulheres)
Participação do Brasil
41º lugar
Data de abertura
26 de Agosto de 1972
Data de encerramento
11 de Setembro de 1972

PAÍSOUROPRATABRONZE
UNIÃO SOVIÉTICA50272299
ESTADOS UNIDOS33313094
ALEMANHA ORIENTAL20232366
ALEMANHA OCIDENTAL13111640
JAPÃO138829
AUSTRÁLIA87217
POLÔNIA75921
HUNGRIA6131635
BULGÁRIA610521
41ºBRASIL0022


Mark Spitz (Estados Unidos)


Com uma performance incrível na natação, o norte-americano Mark Spitz pode ser considerado o atleta com o melhor desempenho em uma única edição da Olimpíada.
Em Munique-1972, conquistou sete medalhas de ouro. Na Olimpíada chinesa, seu compatriota Michael Phelps somou oito ouros nas piscinas, de fato, um feito extraordinário e histórico. A diferença é que Spitz também quebrou o recorde mundial em todas as provas que venceu (100% de aproveitamento).
Spitz começou a fazer história nos 200 m borboleta. O norte-americano venceu com o tempo de 2min00s70. No mesmo dia, foi campeão no revezamento 4 x 100 m livre. No dia seguinte, ficou com o ouro nos 200 m livre ao bater o compatriota Steven Genter.
A quarta medalha de ouro e o quarto recorde foram conquistados nos 100 m borboleta, com o tempo de 54s27. Algumas horas depois, o incansável Spitz faturou sua quinta medalha de ouro no revezamento 4 x 200 m livre, com a marca de 7min35s78.
Na penúltima prova que disputou, os 100 m livre, Spitz teve pela frente seu principal rival, outro compatriota, Jerry Heidenreich, que estava descansado. Spitz superou o cansaço e o colega, ficando com o sexto ouro. Finalmente, na última prova, o revezamento 4 x 100 m medley, Spitz venceu com a equipe dos Estados Unidos em 3min48s16.
Como outros judeus presentes na Vila Olímpica, Spitz teve que abandonar o local como medida de segurança após o incidente entre terroristas palestinos e a delegação israelense.
Precursor no marketing
O nadador norte-americano entrou também para a história como o precursor dos atletas marqueteiros. Durante a premiação dos 200 m livre, foi para o pódio com par de tênis nas mãos, exibindo claramente seu patrocinador. Pouco depois, fez um comercial para um fabricante de creme de barbear, tirando seu famoso bigode na TV.
Nascido na cidade californiana de Modesto, Spitz despontou para o mundo aos 17 anos, ganhando cinco ouros no Pan-Americano de Winnipeg, em 1967. Esperava-se que fosse repetir o desempenho na Olimpíada de 1968, mas a altitude e o oxigênio rarefeito da Cidade do México prejudicaram seu desempenho.
No mesmo ano de 1972, ele se aposentou das piscinas. Mas em 1991, o diretor de cinema Bud Greenspan lhe ofereceu US$ 1 milhão para que tentasse se classificar para disputar os Jogos de Barcelona, em 1992. Aos 41 anos, Spitz tentou várias vezes, mas não conseguiu atingir o índice exigido pelo federação de seu país.
Outros destaques
  • Alemanha Oriental
    O slalom fez sua estreia na canoagem, com quatro eventos, todos vencidos pela Alemanha Oriental. Os alemães ocidentais gastaram US$ 4 milhões para construir um rio artificial, para garantir as medalhas. No entanto, um ano antes, os vizinhos do leste foram ao local, estudaram as instalações e construíram uma réplica do outro lado do muro.
     
  • Basquete da URSS
    A final do basquete, entre EUA e URSS, terminou em confusão. Os EUA, invictos nos Jogos, monopolizando os ouros (62 vitórias consecutivas), pensaram que já tivessem vencido por 50 a 49 quando o juiz brasileiro Renato Righetto o encerrou. Os juízes de mesa, porém, notaram que faltavam ainda três segundos. Os soviéticos aproveitaram o tempo, e Belov fez a cesta da vitória por 51 a 50. Os EUA se recusaram a receber a prata.

Tática de guerrilha

Na prova de estrada, quatro membros do IRA (Exército Republicano Irlandês) se infiltraram entre os competidores e conseguiram derrubar um competidor compatriota. A sabotagem foi uma forma de represália pelo Comitê Olímpico Internacional ter desfiliado a Rás Tailteann, a tradicional entidade ciclística que insistia em filiar atletas católicos da Irlanda do Norte, parte da ilha sob domínio inglês. Vários líderes do IRA eram ciclistas famosos e não aceitaram a criação de uma nova federação. Nos Jogos de 1956, três integrantes do grupo nacionalista da Irlanda tentaram participar da prova, mas foram retirados antes.
Família real na vela
A equipe espanhola de vela contou com o então príncipe Juan Carlos, atual rei do país. Em 1992, foi a vez de Felipe, seu herdeiro. Em 1996, a infanta Cristina participou em Atlanta, onde conheceu seu futuro marido, Iñaki Urdangarín, medalhista no handebol.
Vovô do barulho
A britânica Lorna Johnstone tornou-se em 1972, aos 70 anos, a mulher mais velha a participar de uma Olimpíada. Sua prova era o adestramento do hipismo, em que a amazona comanda o cavalo para fazer passos e movimentos obrigatórios. É preciso mais pulso que força.
Farsa nacional
No final da maratona, um estudante com o uniforme alemão entrou no Estádio Olímpico e foi ovacionado. Os organizadores perceberam a farsa e o agarraram. O público, sem entender, vaiou a entrada de Frank Shorter (EUA), legítimo líder e ganhador.
Você sabia?
  • Graças ao atraso de seus rivais Eddie Hart e Rey Robinson, o soviético Valery Borzov ganhou com facilidade a medalha de ouro nos 100 m e 200 m do atletismo. Os norte-americanos confundiram o horário das provas de classificação e chegaram tarde. Além da mancada dos oponentes, Borzov contou com uma equipe de cientistas que cuidavam de seu treinamento nos mínimos detalhes.
     
  • Na luta livre, os irmãos norte-americanos Benjamin e John Peterson ganharam, respectivamente, ouro e prata na categoria semipesado. Em Montreal-1976, foi a vez de o outro irmão levar a melhor.
     
  • A sequência de 16 vitórias norte-americanas no salto com vara foi interrompida pelo alemão Wolfgang Nordwig. O maior motivo do feito foi a proibição, sem maiores explicações, da utilização das varas de fibra de carbono pela federação internacional. Exceção, Nordwig não era adepto a esse material.
     
  • Ouro e prata nos 400 m rasos, os negros norte-americanos Vincente Mattews e Wayne Collett ficaram conversando durante a execução do hino de seu país na cerimônia de entrega das medalhas. Foi uma forma de apoiar o movimento de direitos civis em seu país. Resultado: foram punidos pelo COI e não puderam participar do revezamento 4 x 400 m (os EUA ficaram de fora da prova).
     
  • O tiro com arco (popularmente conhecido como arco e flecha) voltou ao programa olímpico depois de 52 anos de ausência. Os arqueiros tinham participado pela última vez em Antuérpia-1920.
     
  • No futebol, mais uma vez o Brasil, que contava no elenco com Falcão e Dirceu, foi eliminado logo na primeira fase, com uma derrota para o Irã por 1 a 0. Todos os semifinalistas eram do bloco socialista: Polônia (ouro), Hungria (prata), URSS e Alemanha Oriental (dividiram a medalha de bronze).

Nenhum comentário:

Postar um comentário