Atenas, 2004
Grécia surpreende pela organização e pelos casos de doping de duas de suas estrelas
Desacreditada e ameaçada pelo Comitê Olímpico Internacional de ter seu direito de sede dos Jogos cassado, Atenas calou os críticos ao conseguir passar os 16 dias do evento sem qualquer incidente na organização. A segurança assustava grande parte das delegações, já que os Jogos de 2004 foram os primeiros após os atentados de 11 de setembro de 2001, em Nova York, e de 11 de março de 2004, em Madri.
Os problemas de atraso nas entregas das praças olímpicas foram esquecidos na cerimônia de abertura, que remeteu à Antiguidade e explorou ao máximo o fato de os gregos terem criado a Olimpíada.
O único revés ocorreu no último dia de competição, durante a maratona, para tristeza dos torcedores brasileiros. À frente na disputa masculina, Vanderlei Cordeiro foi alvo do ataque de um manifestante religioso, o padre irlandês Cornelius Horan, que furou a segurança. Com ajuda de um espectador da prova, Vanderlei conseguiu voltar à corrida, mas demorou para retomar seu ritmo e ficou com o bronze. O maratonista recebeu também a medalha "Barão de Coubertin" e tornou-se o herói olímpico de Atenas.
O doping também chamou a atenção nos Jogos gregos. Na véspera do início da Olimpíada, Kostantinos Kenteris e Ekaterina Thanou, duas estrelas do atletismo local, faltaram aos exames antidoping obrigatórios e depois sofreram um misterioso acidente de moto. Ambos não competiram e decepcionaram os fãs. No total, Atenas-2004 registrou 24 casos positivos de doping. Para o Comitê Olímpico Internacional, resultado da rígida política de controle. O presidente do COI, Jacques Rogge, já alertava que a edição grega bateria o recorde de registros.
Mais dinheiro, o melhor ranking
Na primeira Olimpíada em que pôde contar com a injeção mensal de verbas públicas no COB e nas confederações (a Lei Piva, colocada em vigor em fevereiro de 2002), o esporte brasileiro teve sua segunda melhor participação na história, em termos de ranking.
O Brasil terminou na 16º posição, uma acima do que o país conseguiu em Moscou-1980, quando foi beneficiado pelo boicote dos países ocidentais, e uma atrás de Antuérpia-1920, na primeira participação brasileira.
Foram cinco ouros em Atenas-2004: seleção masculina de vôlei, Torben Grael/Marcelo Ferreira (classe Star) e Robert Scheidt (classe Laser) na vela, Emanuel e Ricardo no vôlei de praia, e Rodrigo Pessoa no hipismo. Este último de herança, só confirmado após o doping do cavalo campeão.
O vôlei feminino, o atletismo e a ginástica artística contrariaram as expectativas. O time de José Roberto Guimarães perdeu a semifinal depois de tomar uma virada inacreditável no quarto set, quando vencia por 24 a 19 e precisava de um único ponto para fechar o jogo contra a Rússia. Daiane dos Santos, na época campeã mundial do solo, ficou fora do pódio após errar na final. Desempenho igualmente frustrante teve Jadel Gregório, quinto no salto triplo, e o revezamento 4 x 100 m rasos, oitavo.
FICHA
| PAÍS | OURO | PRATA | BRONZE | ||
|---|---|---|---|---|---|
| 1º | ESTADOS UNIDOS | 36 | 39 | 28 | 103 |
| 2º | CHINA | 32 | 17 | 14 | 63 |
| 3º | RÚSSIA | 27 | 27 | 38 | 92 |
| 4º | AUSTRÁLIA | 17 | 16 | 16 | 49 |
| 5º | JAPÃO | 16 | 9 | 12 | 37 |
| 6º | ALEMANHA | 13 | 16 | 20 | 49 |
| 7º | FRANÇA | 11 | 9 | 13 | 33 |
| 8º | ITÁLIA | 10 | 11 | 11 | 32 |
| 9º | CORÉIA DO SUL | 9 | 12 | 9 | 30 |
| 16º | BRASIL | 5 | 2 | 3 | 10 |
Michael Phelps (Estados Unidos)
Aos 19 anos, Michael Phelps chegou a Atenas sob a expectativa de quebrar o recorde de sete medalhas de ouro de seu compatriota Mark Spitz, em Munique-1972. Por pouco, Phelps não obteve o feito. Mas foi o grande nome dos Jogos, com seis ouros e oito medalhas.
Além disso, Phelps obteve outros recordes: tornou-se o nadador que mais vezes subiu ao pódio em uma única edição dos Jogos, igualando-se apenas ao ginasta soviético Aleksander Dityatin, que conseguiu o mesmo em Moscou-1980.
Phelps também igualou-se a Spitz como o segundo nadador com mais medalhas de ouro em provas individuais em uma Olimpíada. Venceu os 200 m e 400 m medley e os 100 m e 200 m borboleta. Com o feito, superou Matt Biondi, que conquistou sete medalhas (cinco ouros, uma prata e um bronze) em Seul-1988.
Fenômeno teen
Na primeira das 14 vezes que caiu na água, Phelps venceu as eliminatórias dos 400 m medley pela manhã. As finais, em noite de gala, ele ganhou com quebra de recordes, olímpico e mundial, com 4min08s26, superando sua marca na seletiva norte-americana.
No dia seguinte, Phelps integrou o quarteto dos EUA no 4 x 100 m livre, que lhe tirou o sonho de superar Spitz. Os norte-americanos foram superados pelos sul-africanos e pelos holandeses e ficaram com o bronze. No terceiro dia, Phelps levou ainda mais um bronze, nos 200 m livre, e livrou-se da pressão do recorde.
A partir daí, foi uma chuva de ouros consecutivos. Recordista mundial dos 200 m borboleta (1min53s93), Phelps confirmou ser o principal nome do mundo do estilo e por pouco não estabeleceu nova marca, mas passou a ser recordista olímpico, com 1min54s04. Em seguida, voltou à piscina para ajudar a pôr fim à hegemonia australiana no 4 x 200 m livre. Mais um ouro.
Dois dias depois, foi a vez de Phelps atropelar mais adversários nos 200 m medley, prova em que superou o brasileiro Thiago Pereira. Campeão mundial da distância, fez 1min57s14 para levar seu quarto ouro. Para o quinto trunfo, derrotou o campeão mundial dos 100 m borboleta, Ian Crocker, e estipulou novo recorde olímpico, 51s25.
Após a sétima medalha, o norte-americano abdicou da vaga na equipe dos 4 x 100 m medley e, da arquibancada, assistiu a seus companheiros conquistarem mais um ouro, que contou na sua galeria por ter feito parte da equipe que disputou as semifinais.
Outros destaques
- Catalina Ponor (Romênia)
A romena ofuscou a brasileira Daiane dos Santos, então campeã mundial do solo, que errou e ficou em quinto lugar. Aos 17 anos, Ponor conquistou três medalhas de ouro (no solo, na trave e com a equipe feminina da Romênia), que consagraram a ginasta como a "Rainha de Atenas".
- Rodrigo Pessoa (Brasil)
O cavaleiro, que terminou na segunda colocação na prova individual de saltos com Baloubet de Rouet, herdou no ano seguinte o ouro do irlandês Cian O'Connor, que venceu a prova, mas foi desclassificado por doping de seu cavalo. O episódio valeu como a redenção para o cavaleiro, que perdeu uma medalha certa em Sydney-2000 por três refugos seguidos de Baloubet.
O fim de uma longa espera
Foram 108 anos entre a estreia olímpica do Chile e a conquista de sua primeira medalha de ouro. Ou seja, desde Atenas-1896, quando o país foi o único representante latino na primeira edição dos Jogos, até o retorno da Olimpíada ao território grego. O feito foi conseguido pelos tenistas Nicolas Massú e Fernando González, que venceram o torneio de duplas. O curioso é que o segundo ouro chileno veio logo no dia seguinte, novamente no tênis. Massú foi o vencedor o título de simples; no pódio, ele teve a companhia de González, que levou bronze.
Herói "brasileiro"
O grego Polyvios Kossivas virou astro após socorrer Vanderlei Cordeiro de Lima, que foi atacado pelo padre irlandês Cornelius Horan na parte final da maratona. Gerente de uma fábrica de sorvete em Atenas, Kossivas, 53, veio ao Brasil e foi saudado como herói.
Por água abaixo
Ricardo Winicki, o Bimba, chegou à última regata da classe Mistral com liderança folgada. O velejador poderia chegar em terceiro lugar que assegurava o ouro. E mais: ele só perderia o bronze se terminasse em 17º lugar. Foi exatamente o que aconteceu.
SOS Atleta
A atriz de Hollywood Pamela Anderson ganhou os holofotes quando os EUA levaram a prata por equipes na ginástica artística feminina. Famosa pelos seus atributos físicos no seriado "SOS Malibu", a atriz doou US$ 25 mil e financiou os treinos de uma das atletas, Mohini Bhardwaj.
Você sabia?
Você sabia?
- Campeã dos Jogos, com 35 ouros, a delegação dos EUA levou 538 atletas à Grécia. O cenário pós-11 de Setembro fez o presidente George W. Bush destacar ainda mais seguranças para o evento: 600 oficiais.
- O treinador sul-coreano Suh Jung-bok foi expulso das competições de Atenas após esbofetear sua pupila, a atleta Ye Gue-rin, na derrota dela nas quartas-de-final do judô.
- Não só a abertura dos Jogos remeteu ao passado grego. A disputa do arremesso de peso foi em Olímpia, sagrado sítio olímpico de mais de 1.500 anos.
- Às vésperas do início dos Jogos, a judoca grega Eleni Ioannou, após uma briga com seu namorado, caiu do prédio onde morava. Aos 20 anos, ela foi internada e morreu duas semanas depois.

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