segunda-feira, 7 de maio de 2012

HISTÓRIA DAS OLIMPÍADAS VII




AMSTERDÃ,1928



Veto da rainha holandesa não impede Jogos em sede renegada antes pelo Comitê Olímpico


Após ser preterida duas vezes pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) como sede da Olimpíada, a cidade de Amsterdã, na Holanda, organizou os Jogos Olímpicos de 1928 mesmo com o veto da rainha holandesa, Guillermina, que considerava o evento esportivo uma manifestação pagã.
Um Estádio Olímpico foi construído especialmente para a Olimpíada. Com capacidade para 40 mil espectadores, a construção tinha uma pista atlética de 400 metros, rodeada de um velódromo de 500 metros.
Pela primeira vez na história, uma edição da Olimpíada foi realizada sem a presença do Barão de Coubertin. Criador dos Jogos Olímpicos modernos e então presidente do COI, o Barão afastou-se do cargo em 1925, acreditando que sua missão estava cumprida. Coubertin também estava desiludido com a crescente profissionalização do esporte, que desvirtuava o ideal olímpico pregado pelo francês, e se refugiou na Suíça.
No aspecto esportivo, os Jogos registraram o retorno dos países que não vinham sendo convidados desde 1920 por causa da Primeira Guerra Mundial (Alemanha, Áustria, Hungria, Turquia e Bulgária).
Apesar de 16 esportes inscritos, o Brasil não teve um atleta sequer participando do evento, que contou com 2.883 atletas (2.606 homens e 277 mulheres). 
Pombas pela paz
Com a Europa em fase de recuperação do período pós-Guerra, a Holanda teve a chance de fazer um dos Jogos Olímpicos com mais novidades. A começar pela cerimônia de abertura, que ocorreu no novo estádio.
Pela primeira vez na história, pombas brancas foram soltas pelo ar para representar a paz no mundo. Junto ao voo delas foi acesa, como ainda manda a tradição, a pira olímpica. A chama foi transportada da cidade de Olímpia (Grécia) diretamente para o estádio. O revezamento da tocha, porém, só foi introduzido nos Jogos de 1936, em Berlim.
Outra novidade foi a participação das mulheres (a quem o Barão de Coubertin sempre fizera oposição), que cresceu sensivelmente. Pela primeira vez, assim, o atletismo e a ginástica contaram com provas femininas.
Uma das maiores patrocinadoras do evento até hoje, a Coca-Cola apareceu pela primeira vez nos Jogos. Milhares de caixas do refrigerante foram transportadas no porão do navio que levava a delegação norte-americana. Uma gentileza da fábrica (futura patrocinadora dos Jogos) em favor do movimento olímpico.
Uma tradição, entretanto, foi mantida. Na Olimpíada de Amsterdã, o COI manteve o hábito de autorizar os comitês nacionais a colocar esportes de exibição. Depois da pelota basca nos Jogos de Paris, estiveram presentes na cidade holandesa o tiro ao arco, o jogo de palma (espécie de tênis), o korfball (uma variante do handebol) e o lacrosse.

DESTAQUE 



Elizabeth Robinson (Estados Unidos)


Com apenas 16 anos, a norte-americana Elizabeth "Betty" Robinson entrou para a história dos Jogos Olímpicos como a primeira mulher a conquistar uma medalha de ouro no atletismo.
Nascida em Riversale, no dia 23 de agosto de 1911, Betty entrou para o esporte de forma curiosa: alguns meses antes dos Jogos Olímpicos, enquanto corria para tentar pegar um ônibus, foi vista por um professor de educação física, que ficou impressionado com sua velocidade e lhe propôs começar a treinar para melhorar seu estilo.
Na segunda competição da qual participou, as seletivas norte-americanas para os Jogos de 1928, Betty igualou o recorde mundial, marcando 12s2. Em Amsterdã, quando disputava sua quarta corrida na carreira, conseguiu a vitória nos 100 m rasos, com meio metro de vantagem sobre a segunda colocada. Na sequência, a atleta ganhou a medalha de prata no revezamento 4 x 100 m. 
A tragédia da pioneira
Três anos depois dos Jogos de Amsterdã, Robinson viajava com seu primo quando sofreu, em Chicago, um grave acidente aéreo. Para piorar, um homem que a socorreu achava que Betty estava morta, colocando-a dentro do porta-malas do seu carro e levando-a até uma funerária. De lá, foi para o hospital e ficou sete semanas em coma.
Sem poder andar normalmente por dois anos, só voltou a treinar em 1933. Com muita força de vontade, a atleta conseguiu participar dos Jogos de Berlim, em 1936. Na Alemanha, ainda com sequelas do acidente de avião, Betty não dobrava o joelho, nem agachava-se para a largada nas provas individuais. Porém a norte-americana ainda conquistou a medalha de ouro no revezamento 4 x 100 m. Betty morreu no dia 18 de maio de 1999, aos 87 anos.



Medalhista ecológico


O australiano Henry Pearce foi a grande sensação na prova do skiff simples do remo, personificando o espírito dos Jogos Olímpicos e do futuro sentimento do bom-senso ecológico que permeou o final do século 20. Na metade da disputa, durante as quartas de final, o atleta deixou os remos de lado para permitir a passagem de uma singela família de patos que atravessou bem à frente do seu barco. Mesmo com a parada forçada, o australiano ganhou a eliminatória. Posteriormente, ele ficou com a medalha de ouro na decisão, o único primeiro lugar do seu país em Amsterdã, das quatro medalhas conquistadas.
Futuro comandante
A cerimônia de abertura foi feita com desfile da delegação grega, como uma homenagem aos fundadores dos Jogos. Encabeçando a passagem da delegação norte-americana estava Douglas MacArthur, futuro general que derrotaria os japoneses na Segunda Guerra Mundial.
Empurrãozinho
Na disputa feminina dos 200 m peito, um fato inédito. A alça do maiô da nadadora alemã Hildegard Schrader caiu, deixando descoberto o seu seio, incidente que a fez nadar mais rápido e ganhar o ouro. No final da prova, a alemã ficou na água e foi ajudada a se recompor pelas rivais.
Força feminina
Ao final dos 800 m, participantes desmaiaram pelo esforço. O papa Pio 11 considerava desumana a participação feminina nos Jogos. Finalmente, a Iaaf (federação internacional) proibiu todas as corridas femininas superiores aos 200 m, medida que vigoraria até os Jogos de Roma, em 1960.
Você sabia?
  • O esgrimista Attila Petschauer, que deu a primeira medalha de ouro à Hungria na história das Olimpíadas, teria um final trágico. Ele morreria, anos mais tarde (em 1943), torturado pela própria polícia húngara, por ser judeu no meio da Segunda Guerra. Outro membro da equipe, Janos Garay, morreria em um campo de concentração nazista.
     
  • Vencedor das provas de 100 m e 200 m e uma das estrelas dos Jogos, o canadense Percy Williams teve uma vitória pessoal em Amsterdã. Quando ele tinha 15 anos, os médicos o haviam proibido de fazer qualquer prática esportiva.
     
  • Apesar de ser um dos grandes da história, o sueco Arne Borg nunca teve muita sorte nos Jogos Olímpicos. Em 1928, ganhou sua única medalha de ouro ao vencer os 1.500 m livre, prova em que manteve o recorde mundial por 11 anos. Depois de três Olimpíadas, teve mais duas medalhas de prata e outras duas de bronze, além de 32 recordes mundiais.
     
  • A cerimônia de abertura foi boicotada pela França. O motivo foi um incidente diplomático: um porteiro do Estádio Olímpico havia negado acesso ao representante da delegação, Paul Mericamp, secretário-geral da federação de atletismo.


FICHA

Países participantes
46
Número de modalidades
16
Número de atletas
2.883 (2.606 homens, 277 mulheres)
Participação do Brasil
não participou
Data de abertura
17 de Maio de 1928
Data de encerramento
12 de Agosto de 1928

PAÍS
OUROPRATABRONZE
ESTADOS UNIDOS22181656
ALEMANHA1071431
FINLÂNDIA88925
SUÉCIA761225
ITÁLIA75719
SUÍÇA74415
FRANÇA610521
HOLANDA69419
HUNGRIA4509
10ºCANADÁ44715

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