sexta-feira, 18 de maio de 2012

HISTÓRIA DAS OLIMPÍADAS XXI


Barcelona, 1992



Barcelona encerra espera de sete décadas e apresenta Jogos com nova divisão geopolítica

A cidade de Barcelona esperou quase 70 anos para poder abrigar os Jogos Olímpicos. Em 1924, a Olimpíada tinha sido prometida à cidade espanhola, porém Pierre de Frédy, o Barão de Coubertin, escolheu Paris. Em 1936, três anos após a subida do nazismo ao poder na Alemanha, os Jogos iriam novamente para Barcelona, mas a Guerra Civil Espanhola postergou o evento mais uma vez.
Depois dos Jogos de Seul, em 1988, o mundo passou por grandes transformações na sua geopolítica. O apartheid foi banido da África do Sul, o que possibilitou o retorno do país aos Jogos. A Alemanha se reunificou após a queda do Muro de Berlim, em 1989. A União Soviética fragmentou-se em 15 novas repúblicas no ano da véspera da competição. Estônia, Letônia e Lituânia, ausentes há mais de meio século dos Jogos por causa da ocupação soviética, também participaram.
 
As repúblicas da antiga União Soviética desfilaram em Barcelona com o nome de Comunidade dos Estados Independentes (CEI), mas quando subiram ao pódio os atletas tiveram içadas as bandeiras de seus próprios países.
 
A Albânia, livre da ditadura, voltou aos Jogos após 30 anos. Cuba, Coreia do Norte e Etiópia também encerraram seu boicote. A Iugoslávia, sancionada pelas Nações Unidas pela agressão militar à Croácia e à Bósnia, foi proibida de participar das competições por equipes, mas os atletas do país puderam competir como "atletas olímpicos independentes". A chama olímpica foi acesa com uma flecha lançada pelo arqueiro paraolímpico espanhol Antonio Rebollo.
 
Vôlei consagra a geração de ouro
 
Formada por Tande, Amauri, André, Carlão, Douglas, Giovane, Janelson, Jorge Édson, Marcelo Negrão, Maurício, Paulão e Talmo, a seleção masculina de vôlei, comandada por José Roberto Guimarães, fez uma campanha impecável e consagrou-se como a “geração de ouro” ao vencer a Holanda por 3 sets a 0 na final.
 
Foi o primeiro ouro em esportes coletivos do Brasil, que contribuiu para o fim de um jejum: fazia oito anos que o país não subia mais de uma vez ao lugar mais alto do pódio. No judô, Rogério Sampaio triunfou com uma vitória dramática na categoria meio-leve, na qual derrotou o húngaro Jozsef Csak na contagem de pontos para levar o segundo ouro.
 
O nadador Gustavo Borges por pouco não conseguiu o terceiro ouro: levou a prata nos 100 m livre. Essa medalha veio de forma sofrida. A prova foi bastante acirrada, com o russo Aleksander Popov, Borges e o francês Stephan Caron. Assim que os nadadores bateram a borda, o nome do brasileiro não apareceu no placar. O chefe da delegação brasileira e atual presidente da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), Coaracy Nunes, pulou a mureta da arquibancada e foi reclamar. O nome de Borges apareceu na quinta colocação. Coaracy continuou lutando e os fiscais resolveram assistir ao videoteipe da prova: prata para o Brasil.
 
Pela primeira vez desde Tóquio-1964, o atletismo do Brasil não ganhou medalha. Robson Caetano ficou em quarto nos 200 m rasos e Zequinha Barbosa, nos 800 m, também terminou na quarta colocação.

FICHA

Países participantes
169
Número de modalidades
28
Número de atletas
9.356 (6.652 homens, 2.704 mulheres)
Participação do Brasil
25º lugar
Data de abertura
25 de Julho de 1992
Data de encerramento
09 de Agosto de 1992


 PAÍSOUROPRATABRONZE 
CEI453829112
ESTADOS UNIDOS373437108
ALEMANHA33212882
CHINA16221654
CUBA1461131
ESPANHA137222
CORÉIA DO SUL1251229
HUNGRIA1112730
FRANÇA851629
25ºBRASIL2103

Magic Johnson (Estados Unidos)

Geralmente os destaques em Jogos Olímpicos são atletas que competem em provas individuais. Em Barcelona-1992, porém, todos os holofotes estiveram focados sobre uma estrela dos esportes coletivos: Earvin “Magic” Johnson.
 
Líder natural, por carisma e habilidade, Magic Johnson teve como missão curar as feridas provocadas pelo fracasso do basquete norte-americano nos Jogos de Seul (terceiro colocado). Tarefa fácil para quem tinha a companhia de craques do quilate de Charles Barkley, Larry Bird, Clyde Drexler, Patrick Ewing, Michael Jordan, Karl Malone, Chris Mullin, Scottie Pippen, David Robinson e John Stockton. Coadjuvados pelo jovem ala-pivô Christian Laettner e treinados por Chuck Daly.
 
Assim, a equipe dos EUA, eternizada como o primeiro "Dream Team" (Time dos Sonhos), não encontrou nenhum adversário à altura em sua trajetória vitoriosa rumo ao ouro. Foram oito jogos e oito vitórias incontestáveis. O jogo "mais difícil" que os EUA tiveram àquela época foi a final contra a Croácia, em que os norte-americanos impuseram uma vantagem de 32 pontos, 117 a 85.
 
Carreira abalada pela Aids
 
Considerado um dos melhores jogadores de todos os tempos, o norte-americano começou a carreira na Universidade de Michigan. Com seus 2,06 m, jogava em todas as posições, de armador a pivô, destacando-se pela grande facilidade em converter lances de três pontos e pela visão de jogo (era perito na assistência, o ótimo passe que um colega transforma em cesta). Em 1979, no seu segundo ano como universitário, ganhou o título do campeonato nacional. Decidiu então abandonar a universidade e se incorporar à NBA.
 
Escolhido pelo Los Angeles Lakers, jogou na equipe até retirar-se da quadras em 1990, quando divulgou ser portador do vírus HIV. Voltou a jogar em 1992, especialmente para a Olimpíada de Barcelona. Logo após os Jogos, Magic Johnson encerrou a carreira de vez.
 
Além do título olímpico, Magic Johnson foi campeão universitário (1979) e da NBA (1980/82/85/87/88). Pela liga profissional norte-americana, foram 906 partidas disputadas, com 17.707 pontos e 10.141 assistências.
 
Outros destaques
 
  • Vitaly Scherbo (CEI)
    Competindo pela Comunidade dos Estados Independentes (CEI), que representava a ex-União Soviética, o bielorrusso de 20 anos conquistou seis medalhas de ouro, um recorde olímpico, quatro das quais no mesmo dia. Vitaly Scherbo venceu nas argolas, na barras paralelas, no salto sobre o cavalo e no cavalo com alça, além de ser campeão no individual geral e com a equipe.
     
  • Linford Christie (Reino Unido)
    O corredor britânico tornou-se o campeão mais velho dos 100 m rasos ao conseguir a façanha aos 32 anos.

Noivos de ouro

O badminton fez sua estreia no programa olímpico nos Jogos de Barcelona-1992. As primeiras medalhas de ouro das provas individuais masculina e feminina da modalidade foram para um casal de noivos indonésios. Allan Budi Kusuna e Susi Susanti subiram ao degrau mais alto do pódio no mesmo dia, com uma diferença de apenas duas horas. No torneio masculino de simples, a Indonésia dominou as três primeiras posições. Susi Susanti, que impressionou pelo rosto delicado e as pernas musculosas, recebeu o ouro das mãos do presidente do COI, Juan Samaranch.
União de raças
 
Na prova feminina dos 10.000 m, a etíope Derartu Tulu tornou-se, aos 23 anos, a primeira mulher negra da África a ganhar uma medalha de ouro olímpica. Ao finalizar a prova em primeiro lugar, ela esperou pela segunda colocada, a branca Elana Meyer, da África do Sul, para dar a volta olímpica de mãos dadas.
 
Vento vilão
 
O ucraniano Sergei Bubka, 30 vezes recordista mundial no salto com vara, não superou a marca dos 5,70 m nas primeiras tentativas. Bubka decidiu trocar sua vara por uma mais flexível, mas, quando corria para a última chance, o vento lhe pregou uma peça, e o salto foi desastroso.
 
Heroína malvista
 
A argelina Hassiba Boulmerka levou o ouro na prova dos 1.500 m do atletismo, com o tempo de 3min55s30. Na volta à Argélia, foi tratada como heroína, mas fortemente criticada por uma facção de fundamentalistas islâmicos, que a condenou por correr na frente de homens.
 
Você sabia?
 
  • A grega Paraskevi Patoulidou ganhou os 100 m com barreiras graças à queda da norte-americana Gail Devers e ao abandono por lesão da russa Lyudmila Narozhilenko, as duas favoritas. Assim, Patoulidou foi a primeira grega a ganhar uma medalha de ouro olímpica no atletismo.
     
  • No jogo de vôlei entre Estados Unidos e Japão, os japoneses estavam a um ponto da vitória quando o árbitro mostrou cartão amarelo a Bob Samuelson, dos EUA. Por ser o segundo cartão, Samuelson foi expulso, o que valeria um ponto ao Japão. Mas os juizes continuaram a partida e os EUA ganharam. O Japão protestou e conseguiu inverter o resultado da partida. Como gesto de solidariedade, a equipe norte-americana raspou a cabeça para ficar igual ao careca Samuelson.
     
  • A mascote dos Jogos de Barcelona foi o cachorrinho Cobi, desenhado pelo artista plástico Javier Mariscal.
     
  • O boxe foi dominado pelos cubanos em Barcelona. Os pugilistas da terra de Fidel Castro ganharam sete medalhas de ouro das 12 em disputa, além de duas de prata. Os Estados Unidos conseguiram apenas três pódios, pior resultado de sua história.
     
  • Em 1989, a Federação Internacional de Basquete permitiu a participação de jogadores profissionais nos Jogos Olímpicos. Isso possibilitou aos Estados Unidos montar uma equipe que ficou conhecida como "Dream Team", por contar com inúmeras estrelas da NBA. O objetivo era vingar o insatisfatório terceiro lugar conquistado pelo país nos Jogos anteriores, em Seul.
     
  • A pira olímpica foi acesa pelo arqueiro Antonio Rebollo, que lançou do estádio uma seta em chamas em direção ao local.



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