Los Angeles, 1984
Soviéticos revidam boicote, mas Olimpíada tem recorde de participação e show de tecnologia
Depois da debandada de Moscou, foi a vez de os soviéticos revidarem o boicote dos Estados Unidos. Mas nem a ausência da União Soviética e seu bloco de aliados socialistas, como Cuba e a Alemanha Oriental, impediu que Los Angeles obtivesse um número recorde de países participantes: 140. Os Jogos também marcaram a volta da China à competição após 32 anos de ausência.
Os Estados Unidos receberam uma Olimpíada depois de 52 anos. Bem-organizados, os Jogos de Los Angeles mostraram um show de tecnologia. Na cerimônia de abertura, o ponto alto foi quando um homem voou sobre o estádio Coliseum com uma mochila a jato.
Sem os principais rivais, os norte-americanos lideraram a competição com 174 medalhas, mais do que o triplo da Romênia, segunda colocada com 53.
Pela primeira vez, uma edição dos Jogos foi financiada pela iniciativa privada. Tudo foi colocado à venda: desde o percurso de 19 mil quilômetros da tocha olímpica até a piscina olímpica, construída pela rede de lanchonetes McDonald's.
Joaquim Cruz e a geração de prata
Após o bom desempenho em Moscou, o Brasil enviou uma delegação ainda maior para Los Angeles. Com 166 atletas, sendo 145 homens e 21 mulheres, o país dobrou o número de medalhas conquistadas, com oito no total, um recorde até então: um ouro, cinco pratas e dois bronzes.
O brasiliense Joaquim Cruz foi o único vencedor do país e de quebra estabeleceu novo recorde olímpico nos 800 m rasos, 1min43s00, que durou até Atlanta-1996. Já a seleção masculina de vôlei perdeu apenas para os anfitriões e foi vice-campeã. William, Bernard, Montanaro, Xandó, Rernan, Amauri e cia. ficaram conhecidos como a geração de prata.
Na natação, o então recordista mundial Ricardo Prado conquistou a medalha de prata nos 400 m medley, com 4min18s45. O Brasil também manteve a tradição de pódios na vela e trouxe mais pratas, com Torben Grael e Daniel Adler, na classe Soling. Outro esporte que rendeu medalhas foi o judô, com a prata de Douglas Vieira na categoria meio-pesado e dois bronzes, de Walter Carmona (médio) e Luís Onmura (leve).
No futebol, a seleção foi à final pela primeira vez e acabou com o vice. Na primeira competição em que os profissionais puderam atuar (desde que não tivessem participado de Copas do Mundo), o Brasil foi derrotado pela França por 2 a 0. A base do time foi o Internacional, e o time teve Dunga, Mauro Galvão e o goleiro Gilmar. O técnico era Jair Picerni.
| PAÍS | OURO | PRATA | BRONZE | ||
|---|---|---|---|---|---|
| 1º | ESTADOS UNIDOS | 83 | 61 | 30 | 174 |
| 2º | ROMÊNIA | 20 | 16 | 17 | 53 |
| 3º | ALEMANHA OCIDENTAL | 17 | 19 | 23 | 59 |
| 4º | CHINA | 15 | 8 | 9 | 32 |
| 5º | ITÁLIA | 14 | 6 | 12 | 32 |
| 6º | CANADÁ | 10 | 18 | 16 | 44 |
| 7º | JAPÃO | 10 | 8 | 14 | 32 |
| 8º | NOVA ZELÂNDIA | 8 | 1 | 2 | 11 |
| 9º | IUGOSLÁVIA | 7 | 4 | 7 | 18 |
| 19º | BRASIL | 1 | 5 | 2 | 8 |
Carl Lewis (Estados Unidos)
Um dos maiores atletas de todos os tempos, o norte-americano Carl Lewis viveu seu auge nos Jogos de 1984, em que faturou quatro medalhas de ouro. A primeira, nos 100 m rasos, vencidos com 20 centésimos e 2,5 metros de vantagem para o segundo colocado, seu compatriota Sam Graddy. Lewis cravou 9s99.
O segundo ouro veio no salto em distância. Logo em seu primeiro salto, Lewis alcançou a marca de 8,54 m. Preocupado com a prova dos 200 m, preferiu se poupar e não se apresentou nas séries seguintes. Sob vaias do público, que esperava sua apresentação, ele saltou na quinta série, mas queimou a marca. Mesmo assim, venceu, uma vez que seus rivais diretos não passaram dos 8,24 m.
Nos 200 m, enfim, Lewis quebrou o recorde olímpico e levou seu terceiro ouro, com 19s80. A última conquista foi com o quarteto norte-americano do revezamento 4 x 100 m, que lhe valeu o quarto ouro.
Coadjuvante do escândalo
Na edição seguinte dos Jogos, em Seul-1988, Carl Lewis voltou a triunfar nos 100 m rasos, mas apenas ao final de um escândalo protagonizado pelo jamaicano naturalizado canadense Ben Johnson. Johnson venceu o duelo com Lewis na prova mais rápida do atletismo, mas foi desclassificado após ter sido pego em exame antidoping que apontou o uso de esteroides.
Nas prévias da final, Lewis tinha superado Johnson nas duas corridas que travaram. Nas eliminatórias dos 100 m, o norte-americano cravou 10s14, contra 10s17 de Johnson. Na semifinal, Lewis correu em 9s97, e o rival, em 10s03. Com a comprovação da fraude, foi declarado vencedor com sua marca do segundo lugar, 9s92.
Carl Lewis ganhou ainda outro ouro, no salto em distância, e uma prata, nos 200 m, na Coreia do Sul. Na Olimpíada seguinte, em Barcelona-1992, seu domínio no salto em distância se manteve, e ele obteve seu terceiro ouro na prova, além de ajudar o time dos EUA a vencer no revezamento 4 x 100 m. Finalmente, em Atlanta-1996, em sua última Olimpíada, o atleta alcançou o feito de levar o quarto ouro consecutivo no salto em distância.
Outros destaques
- Evelyn Ashford (EUA)
Evelyn venceu os 100 m rasos, com direito a recorde mundial, e foi fundamental no revezamento 4 x 100 m da equipe norte-americana. Sua carreira se estendeu por Seul-1988 e Barcelona-1992, onde levou mais dois ouros com os quartetos dos EUA.
- Naroli Fairhall (Nova Zelândia)
Nas provas de tiro com arco, Naroli Fairhall tornou-se a primeira paraplégica a participar de uma edição dos Jogos Olímpicos. Fairhall, que sofreu um grave acidente que a deixou paralisada da cintura para baixo, competiu sentada em sua cadeira de rodas. Muito aplaudida, ela obteve a 35ª colocação.
Prejuízo olímpico
A rede norte-americana de fast food McDonald's não imaginava o boicote socialista aos Jogos Olímpicos de Los Angeles quando lançou a promoção "Quando os EUA vencem, você vence" em âmbito nacional. Cada ouro conquistado por um atleta do país valia um hambúrguer, uma prata dava direito a uma batata frita e um bronze rendia um refrigerante de graça aos clientes. Resultado: milhões de dólares de prejuízo, porque os norte-americanos eram barbada nas disputas. Posteriormente, o seriado de TV "Os Simpsons" ironizou esse episódio com Lisa e o palhaço Krusty.
Atropelado e atropelador
O norte-americano Bruce Kimball, dos saltos ornamentais, ganhou a medalha de prata na plataforma. Kimball havia sofrido um grave acidente em 1981, quando foi atropelado por um motorista bêbado. Em 1988, o mesmo Kimball, sob efeito de álcool, atropelaria um grupo de jovens, matando dois deles. Ele foi condenado a 17 anos de prisão.
Coisa de família
No atletismo, o grande destaque foi o norte-americano Frederick Carlton Lewis, mais conhecido como Carl Lewis. Seu pai e seu irmão foram jogadores de futebol americano; sua mãe, Evelyn, competiu no Pan de Buenos Aires-1951. Nos Jogos de Los Angeles, Carol, sua irmã, foi a nona colocada no salto em distância.
Medalha engasgada
O norte-americano Edwin Moses, campeão olímpico dos 400 m com barreiras em 1976, foi o encarregado de prestar o juramento olímpico. Paralisado pela emoção, tentou três vezes antes de conseguir finalizá-lo. Fora dos Jogos de Moscou-1980 devido ao boicote dos EUA aos soviéticos, Moses voltou a ganhar a prova em Los Angeles.
Você sabia?
- No basquete, a final masculina foi um massacre dos EUA sobre a Espanha, 95 a 65. A equipe norte-americana ganhou todas as suas partidas, com média de 32 pontos de vantagem. A estrela foi o depois superastro da NBA Michael Jordan, que registrou uma média de 17 pontos por jogo.
- O marroquino Said Aouita, ouro nos 5.000 metros, dominou as provas de fundo durante anos. Em seu retorno, o rei Hassan 2º, de Marrocos, batizou o trem que liga Rabat a Casablanca com seu nome como homenagem pela vitória em Los Angeles.
- No torneio de boxe, um futuro campeão mundial ganhou destaque, apesar de perder na semifinal. Evander Holyfield foi desclassificado, depois de nocautear seu adversário, por ter dado um golpe depois que o árbitro tinha parado a luta.
- A tocha olímpica entrou no Estádio Olímpico pelas mãos de Gina Memphill, neta de Jesse Owens, que conquistou quatro medalhas de ouro nos Jogos de Berlim-1936, para desgosto do então líder alemão Adolf Hitler.

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