Montreal, 1976
Com segurança feita por 16 mil soldados, Jogos têm boicote político e avanço na luta antidoping
Com a experiência recente do atentado a Munique, o Comitê Olímpico Internacional indicou a cidade canadense de Montreal confiante no renascimento dos Jogos. Cerca de 16 mil soldados protegeram a competição, e nenhuma ocorrência grave foi registrada.
Logo após a cerimônia de abertura, porém, a paz deixou de reinar. Liderados pela Tanzânia, 22 países africanos abandonaram os Jogos por discordar da participação da Nova Zelândia, porque sua seleção de rúgbi (esporte não olímpico) tinha realizado uma turnê pela África do Sul, desrespeitando o embargo contra o regime do apartheid. Iraque, Líbano e Guiana aderiram ao boicote.
O combate do COI ao doping entrou em nova fase. Os três medalhistas em cada prova foram submetidos ao controle, além de outros atletas escolhidos por sorteio. Foram realizados 2.000 exames, que detectaram 11 casos positivos, dos quais oito de levantadores de peso. No tiro esportivo, um atleta de Mônaco de 65 anos, Paulo Cerutti, foi desclassificado por tomar anfetaminas. A polonesa Danuta Rosani, do lançamento de disco, tornou-se a primeira mulher pega no atletismo.
Na soma das medalhas, pela primeira vez os Estados Unidos ficaram em terceiro lugar no quadro geral, atrás de União Soviética e Alemanha Oriental.
Brasil repete Munique
No Canadá, a delegação brasileira repetiu o desempenho de Munique-1972, conquistando duas medalhas de bronze. Com uma delegação de 81 atletas, dos quais apenas sete mulheres, o Brasil participou de 13 modalidades.
Seguindo a tradição do atletismo, o salto triplo foi o destaque do país. Depois dos feitos de Adhemar Ferreira da Silva e Nelson Prudêncio em edições anteriores dos Jogos, foi a vez de João do Pulo subir ao pódio para levar o bronze.
João do Paulo chegou a Montreal como recordista mundial da prova, com a marca de 17,89 m do Pan do México-1975. O brasileiro liderou a fase eliminatória, mas não conseguiu passar dos 16,90 m e foi superado pelo soviético Viktor Saneyev, que faturou o ouro pela terceira vez consecutiva, com 17,29 m. O saltador, que morreu em 1999, participou ainda da Olimpíada seguinte, em Moscou-1980, onde foi bronze.
O segundo bronze do Brasil foi na vela, com a dupla Reinaldo Conrad e Peter Ficker na classe Flying Dutchman, que por 0s4 não levou a prata. Para Conrad, foi o segundo pódio em Olimpíadas, já que no México-1968 ele também levou o bronze, ao lado de Bukhard Cordes.
O futebol por pouco não aumentou a lista de medalhas, com um quarto lugar. O time comandado por Cláudio Coutinho, que seria técnico na Copa do Mundo de 1978, contou com futuros destaques em Mundiais, como o goleiro Carlos, o zagueiro Edinho e o lateral Júnior. A seleção perdeu para a Polônia na semifinal e, na disputa pelo bronze, voltou a perder, para a União Soviética.
| PAÍS | OURO | PRATA | BRONZE | ||
|---|---|---|---|---|---|
| 1º | UNIÃO SOVIÉTICA | 49 | 41 | 35 | 125 |
| 2º | ALEMANHA ORIENTAL | 40 | 25 | 25 | 90 |
| 3º | ESTADOS UNIDOS | 34 | 35 | 25 | 94 |
| 4º | ALEMANHA OCIDENTAL | 10 | 12 | 17 | 39 |
| 5º | JAPÃO | 9 | 6 | 10 | 25 |
| 6º | POLÔNIA | 7 | 6 | 13 | 26 |
| 7º | BULGÁRIA | 6 | 9 | 7 | 22 |
| 8º | CUBA | 6 | 4 | 3 | 13 |
| 9º | ROMÊNIA | 4 | 9 | 14 | 27 |
| 36º | BRASIL | 0 | 0 | 2 | 2 |
Nadia Comaneci (Romênia)
Com apenas 14 anos, 1,50 m e 35 kg, a jovem Nadia Comaneci cravou seu nome na história da ginástica artística em Montreal. As atuações precisas e cheias de graça da prodígia romena deixaram os árbitros embasbacados e lhe renderam três medalhas de ouro.
Nadia triunfou nas barras assimétricas, na trave e, à frente de outras 85 ginastas, no individual geral (que reúne as provas de salto sobre o cavalo, barras assimétricas, trave e solo). Ela recebeu a nota 10 dos jurados, pontuação máxima e até então inédita a uma ginasta na história dos Jogos. E não foi somente um 10, foram sete.
Além disso, Nadia foi a melhor ginasta da equipe da Romênia, que levou a medalha de prata, perdendo apenas para a União Soviética. Por fim, ainda alcançou o bronze no solo. A exuberante apresentação valeu à pequena ginasta o título de "Rainha de Montreal". Quando retornou ao seu país, o governo romeno lhe deu a medalha de Heroína Socialista do Trabalho.
A atleta, ainda uma criança, não sabia o que fazer diante de tantas câmeras e flashes. Quando questionada sobre sua maior vontade após o triunfo olímpico, Nadia respondeu timidamente: "Voltar para casa".
Adulta, Nadia triunfa novamente
Quatro anos depois, nos Jogos de Moscou-1980, Nadia foi à sua segunda Olimpíada, então aos 18 anos. Em 1980, Nadia disputou essa competição de um modo bem diferente, a começar pelo visual, com cabelos mais curtos.
A romena conquistou o bicampeonato olímpico na trave e também venceu a disputa do solo. No individual geral, ficou por 0,75 ponto atrás da soviética Yelena Davydova (79,150 pontos) e obteve a medalha de prata, além de integrar novamente a equipe romena, que ficou na segunda colocação.
Nadia Comaneci já era sinônimo de ginástica ao redor do mundo. E, apesar do retorno olímpico em grande estilo, agora na maturidade, ganhou também muita atenção na prova das barras assimétricas, em que fez uma exibição desastrosa e acabou aos prantos.
Nove anos depois, atravessou andando a fronteira entre Hungria e Romênia para fugir de seu país. De lá, foi para Viena, na Áustria, e pediu asilo político nos Estados Unidos. Em 1993, a ex-ginasta separou-se do também fugitivo Constantin Panait, acusando-o de mantê-la presa em casa. Pouco tempo depois, Nadia foi para o Canadá e casou-se com o ex-ginasta norte-americano Bart Conner, ouro nos Jogos Olímpicos de 1984.
Outros destaques
- Kornelia Ender (Alemanha Oriental)
A nadadora ganhou quatro medalhas de ouro e uma prata; entre duas delas, teve um intervalo de apenas 30 minutos. A alemã ganhou os 100 m borboleta e em seguida venceu os 200 m livre. Kornelia também levou o ouro nos 100 m livre e no quarteto do revezamento 4 x 100 m medley.
- Alberto Juantorena (Cuba)
Apelidado de "O Cavalo", Juantorena foi o primeiro atleta a ganhar os 400 m e os 800 m do atletismo em uma Olimpíada. O cubano, um especialista nos 400 m, decidiu competir nos 800 m para ganhar resistência. Em Montreal, Juantorena venceu com novo recorde mundial.
Um recorde nada honroso
A edição de Montreal ficou marcada por um recorde não muito prestigioso: o pior tempo da história olímpica. O dono da marca foi o haitiano Olmeus Charles, que completou os 10.000 m do atletismo em 42 minutos. Todo o programa de competições do Estádio Olímpico precisou ser atrasado, enquanto Charles corria sozinho na pista até completar a distância. No Canadá, a delegação do Haiti ficou na lanterninha em todas as provas, porque não era formada por esportistas, apenas por amigos do ditador Baby Doc Duvalier, que viajaram a passeio ao país.
Sangue novo
O finlandês Lasse Viren apelou para vencer provas dos 5.000 m e 10.000 m: potencializou seu sangue. O método consistia em extrair uma boa quantidade de sangue e congelá-lo. Antes de competir, ele descongelava e o injetava novamente no corpo.
Genes esportivos
O francês Guy Drut pôs fim à hegemonia dos EUA nos 110 m com barreiras, que vinha de 1928. O norte-americano mais bem colocado levou o bronze: Willie Davenport, pai de Lindsay, que viria a ser número 1 do mundo no tênis.
Fiasco real
No hipismo, a disputa ganhou brilho e apelo de mídia com a presença da princesa Anne, filha da rainha Elizabeth 2ª. Anne teve o pior desempenho entre os integrantes da equipe da Grã-Bretaha, que terminou em um modesto sétimo lugar.
Você sabia?
Você sabia?
- O torneio olímpico de boxe contou com a presença de alguns pugilistas que se tornariam famosos entre os profissionais, como os irmãos Michael e Leon Spinks e Ray Leonard, futuramente chamado de "Sugar Ray".
- Após o término dos Jogos, os organizadores anunciaram um deficit de US$ 223 milhões, que deixou a cidade endividada até o ano 2000.
- Estudante de física e engenharia, o norte-americano Edwin Moses venceu os 400 m com barreiras com recorde mundial. Um detalhe: na Universidade de Atlanta, onde estudava, não havia uma pista de atletismo.
- O vôlei exibiu alguns atletas que levariam prata oito anos mais tarde, em Los Angeles. William, Bernard, Fernandão foram nomes que integraram a equipe que ficou em sétimo. Em quadra também estavam Bebeto de Freitas e José Roberto Guimarães, futuros técnicos.

UNIÃO SOVIÉTICA
ALEMANHA ORIENTAL
ESTADOS UNIDOS
ALEMANHA OCIDENTAL
JAPÃO
POLÔNIA
BULGÁRIA
CUBA
ROMÊNIA
BRASIL
Nenhum comentário:
Postar um comentário