quinta-feira, 17 de maio de 2012

HISTÓRIA DAS OLÍMPIADAS XII


Melbourne, 1956

Adhemar Ferreira da Silva vira lenda do esporte brasileiro na primeira Olimpíada na Austrália

Em 1956, quando Adhemar Ferreira da Silva saltou 16,35 m na final do salto triplo, estabeleceu um recorde que perduraria pelos próximos 48 anos. A marca não foi a melhor do mundo à época, nem mesmo a melhor da carreira do saltador. Mas foi com ela que Adhemar chegou ao bicampeonato olímpico, feito só igualado por brasileiros nos Jogos de Atenas, em 2004, pelos velejadores Torben Grael e Robert Scheidt e pelos jogadores de vôlei Maurício e Giovane.
 
O atleta paulista foi o único destaque do Brasil na Olimpíada de Melbourne. Com a distância, o alto custa da viagem e o cenário internacional incerto, apenas 48 brasileiros disputaram os Jogos. Em Helsinque-1952, a delegação verde-amarela teve 107 representantes.
 
Adhemar foi o único brasileiro a ganhar uma medalha em Melbourne. Como campeão olímpico em 1952, ele tinha quebrado o recorde mundial da prova em 1955, com a marca de 16,55 m, nos Jogos Pan-Americanos da Cidade do México. Em 1956, superou o islandês Vilhjalmur Einarsson, com 16,35 m. A marca era o novo recorde olímpico.
 
Dois anos mais tarde, em 1958, Adhemar mostrou seu lado artístico, atuando no filme "Orfeu Negro". Ele ainda foi escultor, professor de educação física, formou-se em direito e licenciou-se em relações públicas. Falava fluentemente cinco idiomas e trabalhou na embaixada do Brasil na Nigéria. Morreu no dia 12 de janeiro de 2001, aos 73 anos, vítima de diabetes.
 
O Brasil ainda levou outra lenda do esporte para a Austrália. Eder Jofre, o primeiro boxeador brasileiro campeão mundial, chegou perto da medalha. O paulista foi derrotado nas quartas de final, por pontos, pelo chileno Cláudio Barrientos, na categoria galo.
 
Clima político tenso
 
Na primeira Olimpíada do hemisfério Sul, fora do eixo Europa-América do Norte, o Comitê Olímpico Internacional violou pela primeira vez a Carta Olímpica. A lei australiana impôs uma quarentena de seis meses a todo cavalo procedente de outro país. O COI decidiu, então, mandar para Estocolmo, na Suécia, as provas de hipismo.
 
Os problemas dos Jogos, porém, não pararam aí. O contexto político internacional da época era preocupante. A intervenção franco-britânica no canal de Suez (Egito), o segundo conflito árabe-israelense, a violência na África do Norte, motivada pelas lutas pela independência, e a intervenção dos tanques soviéticos em Budapeste criaram dúvidas sobre a disputa dos Jogos.
 
Egito, Iraque e Líbano boicotaram a Olimpíada em protesto pelo conflito árabe-israelense. Israel enviou uma delegação de três atletas, por causa da convocação para servir o Exército. Holanda, Espanha e Suíça não foram aos Jogos para protestar contra a invasão à Hungria. A China popular não participou por causa da presença de Formosa (atual Taiwan).
 
A intervenção soviética na Hungria causou tanta revolta que, no polo aquático, membros das equipes soviética e húngara trocaram socos dentro da piscina. O jogo precisou ser suspenso quando a Hungria vencia por 4 a 0 e a polícia entrou em cena. Nesse cenário, a União Soviética terminou pela primeira vez na frente dos Estados Unidos no quadro de medalhas (98 a 74).



FICHA

Países participantes
72
Número de modalidades
19
Número de atletas
3.314 (2.938 homens, 376 mulheres)
Participação do Brasil
24º lugar
Data de abertura
22 de Novembro de 1956
Data de encerramento
08 de Dezembro de 1956
CLASSIFICAÇÃO DE 1956
 PAÍSOUROPRATABRONZE 
UNIÃO SOVIÉTICA37293298
ESTADOS UNIDOS32251774
AUSTRÁLIA1381435
HUNGRIA910726
ITÁLIA88925
SUÉCIA85619
ALEMANHA613726
REINO UNIDO671124
ROMÊNIA53513
24ºBRASIL1001




Laszlo Papp (Hungria)

Ao ganhar a medalha de ouro na categoria meio-leve nos Jogos Olímpicos de Melbourne, o húngaro Laszlo Papp tornou-se o primeiro boxeador a faturar três medalhas de ouro consecutivas. Seriam necessários 24 anos para que outro pugilista, o cubano Teófilo Stevenson, conseguisse repetir a façanha. Em 2000, Felix Savón também igualou o feito, formando a "Santa Trindade" do boxe olímpico.
 
Lutador talentoso e de técnica extraordinária, Lazlo teve seu melhor momento como amador em Melbourne, quando derrotou na final o norte-americano José Torres, futuro campeão mundial como profissional.
 
Política impede glória mundial
 
Papp nasceu em Budapeste, no dia 25 de março de 1926, e foi o primeiro lutador do bloco soviético a conseguir autorização do Estado para se converter em boxeador profissional. Buscando permissão desde seu bicampeonato olímpico, porém, Papp teve seus pedidos negados até Melbourne. Para sobreviver enquanto não podia viver do esporte, o boxeador foi até mesmo estivador.
 
Depois de 300 lutas, apenas 12 derrotas e dois campeonatos europeus (1949 e 1951) no boxe amador, em maio de 1959 o governo húngaro finalmente permitiu que Papp se profissionalizasse. Em 1962, o húngaro ganhou o título europeu na categoria dos pesos médios.
 
Alegando que a carreira não era condizente com a doutrina socialista, as autoridades húngaras cancelaram a sua permissão para lutar como profissional em 1965. A decisão acabou com a carreira de Papp em um momento-chave, quando ele já negociava um combate contra Joe Giardello, campeão mundial dos médios. Com isso, deixou o boxe sem nunca ter disputado um título mundial.
 
Como profissional, Papp lutou 29 vezes, com 27 vitórias (15 delas por nocaute) e dois empates, um dos poucos boxeadores famosos da história a se aposentar invicto. Papp defendeu o título europeu seis vezes, entre 1962 e 1965. Quando abandonou os ringues, foi nomeado treinador da equipe nacional húngara de boxe, atividade que exerceu entre 1971 e 1992. Morreu no dia 16 de outubro de 2003, aos 77 anos.
 
Outros destaques
 
  • Larysa Latynina (URSS)
    A ginasta soviética alcançou o recorde de medalhas de ouro (nove), igualando-se a Paavo Nurmi (ambos seriam alcançados
    também por Mark Spitz e Carl Lewis e ultrapassados por Michael Phelps), e o recorde absoluto de medalhas (18) na história dos Jogos.
     
  • Vladimir Kuts (URSS)
    Um dos poucos a quebrar a hegemonia dos EUA no atletismo em Melbourne, o soviético ganhou os 5.000 m e os 10.000 m. Infelizmente, ele foi vítima do programa experimental de treinamento soviético, causa de seu 1º ataque cardíaco, em 1960.

Incidente diplomático amoroso

Vencedores no lançamento de martelo masculino e no lançamento de disco feminino, o norte-americano Harold Conolly e a tcheco-eslovaca Olga Fikotova se conheceram na Vila Olímpica e se apaixonaram, criando um incidente internacional. No mesmo ano, apesar das pressões, a Cortina de Ferro se abriu para que os dois se casassem em Praga. Harold participou de quatro Olimpíadas, e Olga, de cinco. Em 1972, Olga Connoly foi escolhida para levar a bandeira norte-americana nos Jogos de Munique. Em 1973, o casal se divorciou e Harold casou-se com outra atleta olímpica, Pat Daniels.
Supermãe
 
Uma mãe australiana, Shirley Strickland, foi ouro nos 80 m com barreiras e no revezamento 4 x 100 m. No total, ganhou sete medalhas olímpicas: três de ouro (duas em Melbourne e uma em Helsinque-1952), uma de prata (em Londres-1948) e três de bronze (duas em 1948 e uma em 1952).
 
Em nome do pai
 
A ginasta húngara Agnes Keleti, aos 35 anos, chegou a dez medalhas em Olimpíadas na Austrália. O feito foi conquistado poucos dias depois de uma tragédia pessoal: seu pai foi assassinado por soldados soviéticos, na invasão a Budapeste.
 
União dos povos
 
A cerimônia de encerramento dos Jogos foi marcada por uma inovação. Por sugestão do imigrante chinês John Ian Wing, um aprendiz de carpinteiro que morava na Austrália, os atletas desfilaram juntos, sem separação por país, para marcar a união dos povos.

Você sabia?
 
  • A australiana Beth Cuthbert venceu os 100 m e os 200 m rasos e ainda ajudou o time do 4 x 100 m a conquistar o bronze. Aos 18 anos, virou heroína australiana e recebeu o apelido de "Menina de Ouro".
     
  • O domínio americano foi quase total no atletismo. No lançamento de disco, Al Oerter iniciou sua série vencedora de quatro ouros.
     
  • Na maratona, o francês Alain Mimoun venceu Emil Zatopek, a "Locomotiva Humana", seu carrasco em Olimpíadas passadas. Após cruzar a linha, o francês esperou pelo amigo, que terminou em sexto.
     
  • Na natação, a Austrália dominou graças a Forbes Carlile, que criou o "interval training", método revolucionário de preparação.












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