Seul, 1988
Na era pós-boicotes, escândalo de doping no atletismo marca os Jogos da Coreia do Sul
Depois de três edições tumultuadas, a grande maioria dos países filiados ao Comitê Olímpico Internacional (COI) voltou a participar dos Jogos, na Coreia do Sul. Após os boicotes de africanos em Montreal-1976, dos norte-americanos em Moscou-1980 e dos soviéticos em Los Angeles-1984, a Olimpíada enfim foi disputada pelas maiores potências do esporte, com exceção de Cuba.
A maior preocupação do COI em relação a Seul era a falta de apoio popular do governo sul-coreano e a constante hostilidade com a vizinha Coreia do Norte. Sob pressão, os organizadores oficializaram um convite aos norte-coreanos, que preferiram não participar. Na cerimônia de abertura, o vencedor da maratona olímpica de 1936, em Berlim, Song Kee-chung, obrigado, na época, a competir sob a bandeira do Japão, levou a tocha olímpica.
Se a organização foi impecável, um escândalo de doping manchou a Olimpíada. O canadense Ben Johnson, vencedor dos 100 m rasos com 9s79, foi desclassificado três dias depois, após um exame apontar o uso de esteroides anabolizantes. A vitória ficou então com o norte-americano Carl Lewis, que correu a prova em 9s92.
Judô dá único ouro ao Brasil
O único ouro do Brasil veio no judô, com Aurélio Miguel, que venceu cinco combates na categoria meio-pesado. No atletismo, o então recordista olímpico Joaquim Cruz não repetiu o feito de Los Angeles e, com 1min43s90, ficou com a prata. Robson Caetano levou bronze nos 200 m, com o tempo de 20s4.
A segunda prata do Brasil em Seul veio com a seleção de futebol, que repetiu o resultado de quatro anos antes. Sob o comando de Carlos Alberto Silva, o time, que teve Taffarel, André Cruz, Mazinho, Jorginho, Neto, Bebeto, Ricardo Gomes e Valdo, perdeu a final para a União Soviética por 2 a 1 na prorrogação. Romário foi o artilheiro do torneio.
Na vela, vieram mais dois bronzes, com Torben Grael e Nelson de Barros Falcão, na classe Star, e Lars Grael e Clinio Freitas, na Tornado.
No basquete, a equipe masculina liderada por Oscar Schmidt ficou na quinta colocação. Na fase classificatória, contra a Espanha, Oscar marcou 55 pontos, recorde olímpico de pontos em um jogo. No vôlei, o Brasil obteve um quarto lugar no masculino e um sexto no feminino.
PAÍS | OURO | PRATA | BRONZE | ||
|---|---|---|---|---|---|
| 1º | UNIÃO SOVIÉTICA | 55 | 31 | 46 | 132 |
| 2º | ALEMANHA ORIENTAL | 37 | 35 | 30 | 102 |
| 3º | ESTADOS UNIDOS | 36 | 31 | 27 | 94 |
| 4º | CORÉIA DO SUL | 12 | 10 | 11 | 33 |
| 5º | ALEMANHA OCIDENTAL | 11 | 14 | 15 | 40 |
| 6º | HUNGRIA | 11 | 6 | 6 | 23 |
| 7º | BULGÁRIA | 10 | 12 | 13 | 35 |
| 8º | ROMÊNIA | 7 | 11 | 6 | 24 |
| 9º | FRANÇA | 6 | 4 | 6 | 16 |
| 24º | BRASIL | 1 | 2 | 3 | 6 |
Kristin Otto (Alemanha Oriental)
Dona de quatro títulos Mundiais em 1986 e de cinco ouros no Campeonato Europeu de 1987, a alemã oriental Kristin Otto provou ser uma nadadora completa ao ficar com a medalha de ouro em três estilos diferentes da natação. Ao final dos Jogos, ela foi eleita pelo Comitê Olímpico Internacional a melhor atleta de Seul-1988.
No estilo livre, Kristin não deu chances para as adversárias, vencendo com tranquilidade os 50 m e os 100 m, com os tempos de 25s49 e 54s93, respectivamente. Além disso, ela teve a honra de ser a primeira atleta a vencer a prova mais rápida da natação, que estreou no programa olímpico da modalidade. Kristin também faturou nos 100 m costas e nos 100 m borboleta.
Para completar o quadro, a atleta comandou os quartetos da Alemanha Oriental para vencer as duas provas do revezamento (4 x 100 m livre e 4 x 100 m medley).
Foi a última participação olímpica da Alemanha Oriental, que ficou na segunda colocação, atrás da União Soviética. Dois anos mais tarde, o país iria se juntar novamente à porção ocidental e formar a Alemanha unificada.
Supremacia e versatilidade
Na disputa mais emocionante, nos 50 m livre, Kristin superou a chinesa Yang Wenyi, que havia batido nove recordes mundiais. A alemã contou com seu porte físico (1,86 m de altura) para vencer por "meio braço" a adversária e cravar 25s49. Yang fez 25s64. Nos 100 m livre, a alemã travou duelo com outra chinesa, Zhuang Yong. Kristin faturou seu segundo ouro com a marca de 54s93; Zhuang levou a prata com 55s47.
Em outros estilos, a alemã também dominou o pódio. Nos 100 m costas, Kristin bateu meio corpo à frente da húngara Krisztina Egerszegi e ganhou ouro com o tempo de 1min00s89. A versatilidade de Kristin também lhe valeu o ouro nos 100 m borboleta, com 59s00, seguida de uma compatriota, Birte Weigang, que nadou em 59s45.
Nascida em Postdam no dia 7 de fevereiro de 1966, Kristin Otto anunciou sua despedida da natação no Campeonato Europeu de 1989, realizado em Bonn, na Alemanha Ocidental.
Outros destaques
- Florence Griffith-Joyner (EUA)
Rainha dos Jogos, a norte-americana Florence Griffith-Joyner ganhou três ouros, nos 100 m e 200 m (batendo o recorde mundial nas duas oportunidades) e no revezamento 4 x 100 m, além de uma de prata no revezamento 4 x 400 m.
- Matt Biondi (EUA)
Revelação masculina da natação, Biondi ganhou cinco medalhas de ouro, duas delas individuais e três com os revezamentos. Também foi medalha de prata nos 200 m livre e nos 100 m borboleta, prova em que Anthony Nesty, do Suriname, tornou-se o primeiro nadador negro a levar ouro na história das Olimpíadas.
Dois nomes, a mesma cara
A minoria turca da Bulgária ganhou um destaque nunca antes visto nos Jogos. O boxeador Ivailo Hristov ganhou ouro na categoria mosca ligeiro. Poucos notaram que se tratava do mesmo pugilista que tinha conquistado o bronze em 1980, com o nome de Ismail Hjuseinov. Como pertencia à minoria turca da Bulgária, ele era obrigado pelo governo a mudar seu nome. A Bulgária também levou ouro com Naim Suleymanoglu, que era chamado de "Hércules de Bolso" por seu 1,50 m de altura. Ele venceu na categoria até 60 kg do levantamento de peso.
Confusão auditiva
O torneio de boxe foi disputado em dois ringues, um com um sino e outro, ao lado, com uma campainha. Durante a luta entre o sul-coreano Chun Jin-chul e o norte-americano Todd Foster, o sino do outro ringue tocou. Chun parou, mas Foster, percebendo o que acontecia, golpeou o rival, nocauteando-o. Os juízes anularam a luta e a repetiram. Foster venceu novamente.
A volta do tênis
Depois de 64 anos de ausência, o tênis voltou aos Jogos Olímpicos. Em simples, ganhou o eslovaco Miroslav Mecir. Em duplas, deu Estados Unidos, com Robert Flach e Robert Seguso. Entre as mulheres, a campeã foi a alemã Steffi Graf, que derrotou na final a argentina Gabriela Sabatini. Também em Seul, o tênis de mesa fez sua estreia na Olimpíada.
Susto no trampolim
Na prova de trampolim dos saltos ornamentais, o norte-americano Greg Louganis calculou mal um de seus saltos e deu um susto no público que acompanhava a disputa. Na queda, Louganis bateu a cabeça no trampolim e precisou levar quatro pontos. Mesmo assim, recuperou-se e, com uma execução perfeita, ganhou a medalha de ouro.
Você sabia?
Você sabia?
- Os Jogos de Seul foram os últimos em que a cerimônia de abertura foi realizada durante o dia. Nas competições seguintes, a festa passou a ser à noite.
- Arvydas Sabonis, de origem lituana, foi o fator de desequilíbrio na vitória da União Soviética sobre a Iugoslávia na final do basquete. Anteriormente, os soviéticos tinham derrotado os Estados Unidos, que, inconformados, decidiram enviar aos Jogos seguintes uma equipe com jogadores da liga profissional NBA.
- Cunhada da estrela do atletismo Florence Griffith-Joyner, dona de quatro medalhas, Jacqueline Joyner-Kersee levou o ouro no salto em distância e no heptatlo.
- Os africanos deram um fim na hegemonia britânica nas provas de fundo do atletismo. Os 800 m, 1.500 m e 5.000 m foram vencidos por quenianos: Paul Ereng, Peter Rono e John Ngugi. Nos 10.000 m, o ouro foi do marroquino Moulay Boutaib. Nos 3.000 m com obstáculos, do queniano Julius Kariuki.

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