Tóquio, 1964
Vítima de bomba nuclear na Segunda Guerra, Japão comprova renascimento com a Olimpíada
Fora da Europa, nenhum país sofreu tanto com a Segunda Guerra Mundial quanto o Japão, atingido por duas bombas nucleares norte-americanas. Depois de 19 anos da bomba de Hiroshima, os japoneses usaram a Olimpíada para provar que estavam renascendo.
Em 1964, os Jogos foram disputados pela primeira vez no continente asiático. Tóquio tinha sido eleita como a sede olímpica de 1940, mas a capital japonesa desistiu em 1937, por causa do início da guerra contra a China. Em 1959, a cidade voltou vencer a eleição do Comitê Olímpico Internacional, para os Jogos de 1964.
Foram investidos US$ 3 bilhões na construção de complexos esportivos, na infra-estrutura e no sistema de transporte da cidade, na época com mais de 10 milhões de habitantes. Grande parte desse valor veio da ajuda dos Estados Unidos, ainda em dívida com os japoneses pelos danos causados durante a Segunda Guerra.
Entre as mais importantes construções estavam o Estádio do Judô e o Estádio Olímpico, projetado no estilo dos tradicionais templos japoneses. O último ficou lotado na cerimônia de abertura: como símbolo do renascimento japonês, o último a carregar a tocha olímpica foi Yoshinori Sakai, de 19 anos, nascido em Hiroshima em 6 de agosto de 1945, dia da explosão da bomba atômica.
Tóquio-1964 também marcou o ressurgimento olímpico dos EUA. Após duas derrotas no quadro geral de medalhas para a União Soviética, os norte-americanos não pouparam esforços e terminaram à frente dos soviéticos em medalhas de ouro (36 a 30). A URSS, entretanto, conquistou mais medalhas (96 a 90).
Nuzman, Feola e só uma medalha
Para os Jogos Olímpicos de Tóquio-1964 o Brasil enviou uma delegação menor do que na Olimpíada anterior, mas com alguns nomes importantes do esporte nacional.
O time de vôlei, sétimo colocado, tinha Carlos Arthur Nuzman, que 31 anos depois assumiu a presidência do Comitê Olímpico Brasileiro.No futebol, o treinador Vicente Feola, que foi campeão da Copa do Mundo de 1958, comandou uma seleção de amadores. No hipismo, Nelson Pessoa foi quinto colocado nos saltos (seu filho, Rodrigo Pessoa, conquistou o título olímpico em 2004).
A única medalha veio com o time de Wlamir Marques e Amaury Pasos, no basquete. Bicampeã mundial (venceu o Mundial em 1959 e em 1963), seleção brasileira ficou com o bronze pela segunda vez seguida (e a terceira na história das Olimpíadas).
A equipe brasileira, treinada por Kanela, era muito parecida com a que disputou Roma-1060. O núcleo era formado por Amaury, Wlamir, Mosquito, Rosa Branca, Jathyr, Edson Bispo e Sucar, além dos novatos Ubiratan, Friedrich Wilhelm Braun, Victor Mirschawka, Sérgio Machado e Edvar Simões. O time fez uma boa campanha na competição, vencida pelos EUA, com seis vitórias e três derrotas. Na disputa pela medalha de bronze, o Brasil derrotou Porto Rico por 67 a 60.
No atletismo e na natação, modalidades em que os brasileiros mantinham regularidade na conquista de medalhas, o país passou em branco. Aída dos Santos foi a única brasileira na Olimpíada de Tóquio e, sem treinador, terminou em quarto lugar no salto em altura, passando da marca de 1,74 m.
Larisa Latynina (União Soviética)
Nascida em 1934, na pequena cidade de Kherson, na Ucrânia, que então fazia parte da União Soviética, a ginasta Larisa Latynina ganhou seis medalhas nos Jogos de Tóquio. Foram dois ouros, duas pratas e dois bronzes. Em toda sua carreira, ela conquistou 18 medalhas olímpicas. Larysa ainda faz parte de um grupo exclusivo: o de atletas donos de nove medalhas de ouro, que tem apenas mais três membros, o finlandês Paavo Nurmi e os norte-americanos Mark Spitz e Carl Lewis. Michael Phelps (EUA) é o líder isolado, com 14 ouros.
A recordista de medalhas
Em Melbourne-1956, Larysa, com 21 anos, travou uma sensacional disputa com a húngara Agnes Keleti. A soviética ficou com o ouro nos exercícios combinados ao terminar em primeiro lugar no salto sobre o cavalo, em segundo nas barras assimétricas e no solo e em quarto na trave.
Nos Jogos de Roma, em 1960, Larysa repetiu seu título no individual geral e ganhou outra medalha de ouro na disputa por equipes. A ginasta venceu também no solo e conquistou a prata nas barras assimétricas e na trave, além do bronze no salto.
Em 1964, em Tóquio, encerrou sua carreira olímpica vencendo pela terceira vez a prova por equipes e, individualmente, conquistando a prata no individual geral. Larysa foi também vice-campeã no salto, bronze nas barras assimétricas e na trave e, pela terceira vez consecutiva, campeã olímpica no solo.
Em Mundiais, Larysa Latynina ganhou oito medalhas de ouro (1958 e 1962), quatro de prata (1958, 1962 e 1966) e uma de bronze (1962).
Poucos meses após sua aposentadoria do cenário internacional, Larysa virou treinadora da equipe soviética, em uma época em que a ginástica feminina estava mudando drasticamente, deixando uma interpretação clássica (lenta, quase como uma dança) para o esporte rápido e dinâmico, disputado atualmente.
Como técnica, preparou ginastas como Nelli Kim e Olga Korbut, levando-as ao topo da modalidade. Ao todo, dedicou 36 anos de sua vida à ginástica. É casada com Yuri Feldnon, um ex-campeão soviético de ciclismo.
Outros destaques
- Joe Frazier (EUA)
Aos 20 anos, o boxeador seguiu os passos de Muhammad Ali e conquistou o título olímpico. Como profissional, em 1968, tornou-se o primeiro norte-americano campeão mundial e olímpicos dos pesados (Muhammad Ali venceu a Olimpíada nos meio-pesados). Joe Frazier morreu em 7 de novembro de 2011, de câncer no fígado.
- Donald Schollander (EUA)
Aos 18 anos, o norte-americano Donald Schollander tornou-se um dos primeiros grandes fenômenos da natação mundial. Nos Jogos de Tóquio-1964, conquistou nada menos que quatro medalhas de ouro, sendo o primeiro atleta do mundo a alcançar tal façanha em sua modalidade.
Harakiri
O judô foi disputado pela primeira vez nos Jogos Olímpicos. O país organizador, que domina o esporte, ganhou três das quatro medalhas de ouro. Porém, na categoria mais desejada, a livre (aberta a todos os pesos), a vitória foi de um holandês, Anton Geesink, derrotando na final o japonês Akio Kaminaga, um verdadeiro trauma nacional. Anos depois, Kaminaga admitiu em entrevista que pensou em harakiri, o ritual suicida japonês. Não aconteceu, e ele foi professor de judô até morrer, aos 56 anos.
20 anos de atraso
Campeão dos 10.000 m, William Mills (EUA), descendente de índios Sioux, venceu o recordista mundial Ron Clarke, da Austrália. Depois da vitória, não deu a volta olímpica porque ainda havia corredores na pista. Voltou ao Estádio Nacional 20 anos mais tarde para dar a volta vitoriosa.
Jogo limpo
O Comitê Olímpico Internaciona entregou o prêmio Fair Play em uma Olimpíada pela primeira vez no Japão. Os suecos Lars Gunnar Kall e Stig Lennart Kall, que desistiram da prova de vela para ajudar outros dois concorrentes cujo barco tinha afundado, foram os homenageados.
Deu bandeira
Tricampeã olímpica, a australiana Dawn Fraser decidiu levar uma bandeira olímpica como lembrança. Resolveu roubar a que tremulava sobre o Palácio Imperial. Pega pelos guardas, só a intervenção do imperador evitou a prisão. Acabou suspensa por dez anos.
Você sabia?
Você sabia?
- Michael Larrabee, professor de matemática em Los Angeles, venceu os 400 m rasos e se tornou o primeiro branco a ganhar a prova em 32 anos. Seus alunos riram dele quando contou que iria tentar a classificação olímpica.
- Desclassificado, o peso-pena espanhol Valentin Loren vingou-se do árbitro com um soco no rosto. Acabou banido do boxe pela federação internacional do esporte.
- No judô, o filipino Thomas Ong perdeu duas lutas, uma em seis segundos e outra em quatro segundos. Ou seja, esteve em ação na Olimpíada por incríveis dez segundos.
- A Polônia venceu o revezamento 4 x 100 m feminino com recorde mundial. Em 1967, porém, uma das corredoras do time, Ewa Klobukowska (também bronze nos 100 m), tornou-se a primeira atleta reprovada no teste de comprovação de sexo.
- No boxe, o sul-coreano Choh Dong-kih foi desclassificado por manter a cabeça muito baixa. Protestou, sentado em uma banqueta no meio do ringue, por 51 minutos.
- Robert Hayes (EUA), ouro nos 100 m rasos, largou as pistas para brilhar no time mais popular de futebol americano nos EUA, o Dallas Cowboys.
PAÍS | OURO | PRATA | BRONZE | ||
|---|---|---|---|---|---|
| 1º | ESTADOS UNIDOS | 36 | 26 | 28 | 90 |
| 2º | UNIÃO SOVIÉTICA | 30 | 31 | 35 | 96 |
| 3º | JAPÃO | 16 | 5 | 8 | 29 |
| 4º | ALEMANHA | 10 | 22 | 18 | 50 |
| 5º | ITÁLIA | 10 | 10 | 7 | 27 |
| 6º | HUNGRIA | 10 | 7 | 5 | 22 |
| 7º | POLÔNIA | 7 | 6 | 10 | 23 |
| 8º | AUSTRÁLIA | 6 | 2 | 10 | 18 |
| 9º | TCHECOSLOVÁQUIA | 5 | 6 | 3 | 14 |
| 35º | BRASIL | 0 | 0 | 1 | 1 |

ESTADOS UNIDOS
UNIÃO SOVIÉTICA
JAPÃO
ALEMANHA
ITÁLIA
HUNGRIA
POLÔNIA
AUSTRÁLIA
TCHECOSLOVÁQUIA
BRASIL
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