Roma, 1960
Após 52 anos da erupção do Vesúvio, Roma organiza seus Jogos e destaca pontos turísticos
A decepção de 1908, quando Roma teve de abdicar de organizar os Jogos Olímpicos por causa da erupção do Vesúvio, aumentou ainda mais a importância dos Jogos de 1960. Para celebrar a Olimpíada, os italianos usaram seus principais pontos turísticos para receber provas.
A chegada da maratona, por exemplo, foi no Arco de Constantino. A competição de luta livre, na Basílica de Constantino, nas ruínas do Fórum Romano, e a ginástica, nas Termas de Caracala. Tudo para lembrar que Roma recebeu as Olimpíadas da Antiguidade, até a proibição do imperador Teodósio, em 393.
Apesar da opção pelo clássico, Roma investiu antes de receber a competição. Para construir novas instalações e infraestrutura necessárias, o comitê organizador gastou US$ 30 milhões. O aeroporto internacional de Fiumicino, por exemplo, foi construído para os Jogos.
Os belos cenários da Olimpíada marcaram também a primeira edição com transmissão mundial pela televisão. A rede inglesa Eurovision exibiu 93 horas e 40 minutos de programação. Cerca de 100 canais exibiram imagens para a Europa, ao vivo para 18 países.
Foi também a primeira vez que uma Olimpíada foi retransmitida para os Estados Unidos. A rede ABC pagou US$ 400 mil pelos direitos, mas as imagens chegavam com atraso, já que as fitas de vídeo eram enviadas de Roma para Nova York por avião.
Campeões mundiais ficam com bronze
Com Adhemar Ferreira da Silva já em declínio, mas presente na delegação, a grande estrela do time brasileiro foi a seleção de basquete do técnico Kanela, campeã do mundo de 1959. Considerada por muitos o melhor time de basquete do Brasil de todos os tempos, a seleção era formada por Algodão, Amaury, Wlamir, Mosquito, Édson, Fernando, Jathyr, Rosa Branca, Sucar, Moyses, Waldemar e Waldyr.
Embalados pelo título do ano anterior, a equipe deu ao basquete brasileiro sua segunda medalha de bronze na história, com uma bela campanha. Em oito jogos, venceu seis e perdeu dois. Na primeira fase, ganhou todas as partidas, inclusive da poderosa União Soviética (58 a 54).
No quadrangular final, no entanto, os soviéticos deram o troco com uma vitória apertada (64 a 62). Depois, a URSS acabou com a medalha de prata. O ouro foi para os Estados Unidos, que derrotaram o Brasil por 90 a 63.
Já sem o brilho do bicampeonato, Adhemar não chegou à final. Sua despedida das Olimpíadas, porém, foi marcante: ele foi ovacionado pela torcida italiana após a sua última tentativa na fase classificatória do salto triplo.
Na natação, o Brasil conquistou a medalha de bronze com Manoel dos Santos, na prova dos 100 m livre. A cor da medalha só não foi outra por causa de 0s2. O nadador paulista liderou durante boa parte da prova, mas foi ultrapassado pelo australiano John Devitt e pelo norte-americano Lance Larson na reta final.
Abebe Bikila (Etiópia)
Abebe Bikila nasceu na Etiópia, em 7 de agosto de 1932. A milhares de quilômetros de lá, no mesmo dia, estava sendo disputada a maratona dos Jogos Olímpicos de Los Angeles. Um presságio para o maior maratonista da Olimpíada, o primeiro atleta a vencer duas vezes a prova.
Bikila nasceu em uma favela de Addis Abeba, capital da Etiópia, e para treinar costumava correr, descalço, em algumas colinas com mais de 2.000 metros de altitude. Com isso, ganhou o preparo físico necessário para ser campeão.
Membro da guarda pessoal do imperador Haile Selassie, Bikila tinha 28 anos e corria uma maratona pela terceira vez quando competiu em Roma. Mesmo assim, cruzou a linha de chegada com 200 metros de vantagem sobre um dos favoritos ao ouro, o marroquino Rhadi Ben Abdesselem, que até a independência do seu país competia pela França.
Passeio de táxi
Quando chegou a Roma, acompanhado do treinador finlandês Omni Niskanen, o etíope fez um passeio de táxi pela cidade, para anotar numa caderneta alguns pontos-chave do percurso. O Obelisco de Axum, a 1,5 km da linha de chegada, marcava o início de uma subida. Bikila definiu que a partir daquele ponto apertaria o passo.
O monumento, curiosamente, tinha importância histórica para os etíopes. O Obelisco de Axum foi construído na Etiópia e levado para Roma após as conquistas do Império Romano na África.
A maratona foi disputada à noite, e Bikila acompanhou o passo de seus principais adversários até o obelisco. No local indicado, o etíope disparou para a vitória, deixando para trás seu principal adversário. Foi a primeira medalha de um negro africano nas Olimpíadas.
Nos Jogos de Tóquio, em 1964, Bikila já era uma estrela do atletismo mundial. Ao contrário de quatro anos antes, corria de tênis e meias para tentar ser o primeiro homem a vencer a maratona duas vezes seguidas. Nem mesmo uma apendicite, que o obrigou a se submeter a uma operação 40 dias antes da prova, parou-o. Bikila venceu seu adversário mais próximo por quatro minutos e seu tempo, 2h12min11s2, era, na época, o melhor da história da maratona.
Outros destaques
- Wilma Rudolph (EUA)
A norte-americana, 20ª filha de uma família de 22 irmãos, sofreu inúmeras doenças quando criança, incluindo poliomielite, que a deixou sem andar até os oito anos. Na Olimpíada de Roma, virou a mulher mais rápida do mundo, com o ouro nos 100 m, nos 200 m e no revezamento 4 x 100 m.
- Cassius Clay (EUA)
Roma viu o primeiro título importante de Muhammad Ali, o maior boxeador de todos os tempos. Ainda usando o nome de batismo, Cassius Marcellus Clay, o pugilista foi ouro nos meio-pesados. Meses depois, fez sua primeira luta como profissional e, em 1964, já era campeão mundial.
Regatas reais
Na vela, nas regatas da classe Dragão, a Grécia velejou melhor do que Argentina, prata, e Itália, bronze, e levou a medalha de ouro. Fazia parte da tripulação grega o príncipe herdeiro Constantino, que também era membro do Comitê Olímpico Internacional. Após a vitória, os gregos lançaram um selo em homenagem ao príncipe. Na mesma classe, no barco filipino, estava Francisco González, que ganharia triste fama quatro anos mais tarde. Ameaçando suicídio, atirou no piloto e no copiloto em um voo comercial, na Califórnia, causando a morte de 44 passageiros.
Surpresas da velocidade
Um ladrão e um doente foram as grandes surpresas das pistas italianas. Armin Hary, alemão, foi o primeiro ouro dos 100 m rasos que não falava inglês. Em 1981, foi condenado por desviar dinheiro da Igreja. O italiano Livio Berrutti, ouro nos 200 m, era míope e doente do fígado.
Irmãs ou irmãos?
A soviética Irina Press venceu os 110 m com barreiras. Sua irmã mais velha, Tamara, foi ouro no arremesso de peso e no lançamento de disco. Juntas, bateram 26 recordes mundiais. Com o início dos testes de determinação do sexo, as duas desapareceram do cenário atlético.
Dois países, um povo
Como em 1956, as Alemanhas foram à Olimpíada com uma só delegação. Com bandeiras diferentes, usaram as três cores nacionais (amarelo, vermelho e preto) e o símbolo olímpico para evitar brigas. Os hinos foram trocados pela "Ode à Alegria", da Nona Sinfonia de Beethoven.
Você sabia?
- Dos 12 campeões de basquete dos Estados Unidos, dez se tornaram profissionais da NBA. Os maiores nomes foram Jerry Lucas e Oscar Robertson.
- O dinamarquês Knut Jensen foi o segundo atleta a morrer em uma Olimpíada, por insolação, nos 100 km contrarrelógio do ciclismo. Houve suspeita de doping. O primeiro a morrer nos Jogos foi o maratonista português Francisco Lázaro, em 1912.
- Tommy Kono (EUA), prata em Roma, é o único levantador de peso com três medalhas em pesos diferentes. Ele foi Mister Universo duas vezes.
- Os 400 m com barreiras estavam amaldiçoados. Prata, Clifton Cushman (EUA) desapareceu em 1966, na Guerra do Vietnã. Bronze, Richard Howard morreu em 1967, de overdose de heroína.
| PAÍS | OURO | PRATA | BRONZE | ||
|---|---|---|---|---|---|
| 1º | UNIÃO SOVIÉTICA | 43 | 29 | 31 | 103 |
| 2º | ESTADOS UNIDOS | 34 | 21 | 16 | 71 |
| 3º | ITÁLIA | 13 | 10 | 13 | 36 |
| 4º | ALEMANHA | 12 | 19 | 11 | 42 |
| 5º | AUSTRÁLIA | 8 | 8 | 6 | 22 |
| 6º | TURQUIA | 7 | 2 | 0 | 9 |
| 7º | HUNGRIA | 6 | 8 | 7 | 21 |
| 8º | JAPÃO | 4 | 7 | 7 | 18 |
| 9º | POLÔNIA | 4 | 6 | 11 | 21 |
| 39º | BRASIL | 0 | 0 | 2 | 2 |

UNIÃO SOVIÉTICA
ESTADOS UNIDOS
ITÁLIA
ALEMANHA
AUSTRÁLIA
TURQUIA
HUNGRIA
JAPÃO
POLÔNIA
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