quinta-feira, 17 de maio de 2012

HISTÓRIA DAS OLIMPÍADAS XV


Cidade do México, 1968

Jogos mexicanos têm 68 recordes mundiais e fazem o mundo conhecer dois tipos de doping

A Olimpíada de 1968, na Cidade do México, apresentou ao mundo dois tipos de doping.
O primeiro, natural, resultado da altitude: disputados a 2.240 metros do nível do mar, com resistência do ar menor e 30% de oxigênio a menos, os Jogos tiveram 68 recordes mundiais e 301 recordes olímpicos quebrados.
O segundo, artificial. A Cidade do México viu, pela primeira vez, o controle antidoping em Olimpíadas. Somente um atleta foi eliminado por testar positivo a substâncias proibidas: o sueco Hans-Gunnar Liljenvall, do pentatlo moderno, por excesso de álcool.
 
Além disso, testes de comprovação de sexo para as provas femininas foram adotados, pelas suspeitas sobre as características físicas de algumas campeãs dos países do bloco socialista. Nenhuma mulher foi desclassificada, mas várias atletas importantes não se inscreveram para os Jogos.
 
O evento teve alto grau de envolvimento político, já que o ano de 1968 foi um dos mais politizados da história. No país-sede, pouco antes da abertura, 300 mil estudantes e professores entraram em greve e, dez dias antes da festa de abertura, tropas do governo abriram fogo contra milhares de manifestantes na praça das Três Culturas, matando centenas de jovens.
 
No resto do mundo, a China vivia o início da Revolução Cultural. Na Tchecoslováquia, os sonhos de liberdade eram esmagados por tanques soviéticos na "Primavera de Praga". Na França, o governo enfrentava manifestos estudantis e, nos Estados Unidos, eram assassinados Robert Kennedy e o líder negro Martin Luther King.
 
Três pódios para o Brasil
 
O Brasil aproveitou os primeiros Jogos disputados na América Latina para conseguir seu melhor desempenho olímpico da década. No México, foram uma medalha de prata e duas de bronze.
 
No atletismo, o salto triplo novamente rendeu medalha ao Brasil. Depois do bicampeonato de Adhemar Ferreira da Silva, foi a vez de Nelson Prudêncio conquistar a prata. Ele saltou 17,27 m, novo recorde mundial. Na última tentativa, quando o brasileiro já saboreava a vitória, o soviético Viktor Saneyev atrapalhou a festa verde-amarela e saltou 17,39 m, conquistando o ouro.
 
No boxe, o paulista Servílio de Oliveira conquistou a primeira e única medalha do Brasil na modalidade, bronze nos meio-médios, após perder na semifinal para o mexicano Ricardo Delgado.
 
A terceira medalha veio em uma modalidade que, no futuro, se tornaria a mais vitoriosa do país em Olimpíadas, a vela. Na classe Flying Dutchmann, Reinaldo Conrad e Burkhard Cordes ganharam o bronze.
 
O Brasil esteve próximo de outras duas medalhas. No basquete, a seleção masculina foi derrotada na disputa pela medalha de bronze pela União Soviética, por 70 a 53. Na natação, José Silvio Fiolo terminou a prova dos 100 m peito a um décimo de segundo dos soviéticos Vladimir Kosinsky e Nikolai Pankin, medalhas de prata e bronze, respectivamente.

FICHA

Países participantes
112
Número de modalidades
20
Número de atletas
5.516 (4.735 homens, 781 mulheres)
Participação do Brasil
35º lugar
Data de abertura
12 de Outubro de 1968
Data de encerramento
27 de Outubro de 1968

PAÍS
OUROPRATABRONZE 
ESTADOS UNIDOS452834107
UNIÃO SOVIÉTICA29323091
JAPÃO117725
HUNGRIA10101232
ALEMANHA ORIENTAL99725
FRANÇA73515
TCHECOSLOVÁQUIA72413
ALEMANHA OCIDENTAL5111026
AUSTRÁLIA57517
35ºBRASIL0123


Bob Beamon (Estados Unidos)

O salto de Robert Beamon é, até hoje, o mais famoso da história das Olimpíadas. Na final do salto em distância, o norte-americano registrou 8,90 metros. Na época, o recorde mundial era 8,35 metros, 55 cm a menos do que a marca de Beamon.
 
Desde 1901, os recordes mundiais do salto em distância avançavam, em média, 6 cm entre cada marca. A maior diferença até então tinha sido de 15 cm.
 
O salto foi tão impressionante que permanece até hoje como recorde olímpico. O recorde mundial durou até 1995, quando o também norte-americano Mike Powell saltou 8,95 m no Mundial de Tóquio.
 
O maior salto da história olímpica
 
Antes do início dos Jogos, o norte-americano era o favorito ao ouro. Ele chegou ao México com 22 vitórias em 23 provas disputadas. Durante a competição, quase perdeu, nas eliminatórias, a chance de consagração: após queimar duas vezes, conseguiu o índice para a final só no último salto.
 
Na decisão, o marcador fotoelétrico instalado na caixa de areia registrava apenas até 8,50 metros de distância. Assim, a confirmação da marca de Robert Beamon só saiu após o uso da velha trena. Ao ser divulgado o resultado no sistema métrico, o norte-americano ficou sem entender nada. Ao ser convertida a marca para 29 pés e duas polegadas, Robert caiu no chão, incrédulo do próprio feito.
 
Após o recorde, o atleta nunca mais chegou perto de tal marca. Seu melhor salto depois foi 8,20 m. Especialistas afirmam que ao menos duas condições contribuíram para o desempenho extraordinário de Beamon: a altitude da Cidade do México, que diminui o atrito do ar, e o vento forte no momento do recorde.
 
O norte-americano saltou com vento a favor de dois metros por segundo, o limite permitido para que a Iaaf, a entidade que controla o atletismo, homologasse a marca. Logo depois do salto, uma tempestade caiu no estádio.
 
O salto de Beamon ficou tão famoso que foi eleito pela revista norte-americana "Sports Illustrated" como um dos cinco maiores feitos do século 20. Foi retratado até mesmo nos "Simpsons" como o maior feito da história das Olimpíadas. No desenho, Beamon salta por cima das arquibancadas e cai fora do estádio.
 
Outros destaques
 
  • George Foreman (EUA)
    No boxe, a medalha de ouro nos pesados foi para um lutador inexperiente, que tinha realizado apenas 18 lutas antes dos Jogos: George Foreman. Em 1973, ele nocautearia Joe Frazier, outro campeão olímpico, para conqusitar o título mundial. Foreman aposentou-se em 1977, mas voltou dez anos depois aos ringues e, em 1994, reconquistou o título aos 45 anos.
     
  • Al Oerter (EUA)
    Verdadeira lenda olímpica, o lançador de disco Alfred "Al" Oerter foi o primeiro esportista a ganhar a medalha de ouro em quatro Jogos Olímpicos consecutivos no atletismo. Façanha conseguida apenas anos mais tarde por seu compatriota Carl Lewis, no salto em distância.

"Duas cervejinhas"

Os Jogos da Cidade do México foram os primeiros da história a contar com o controle antidoping. O primeiro caso flagrado foi o do sueco Hans-Gunnar Liljenvall, por uso de álcool. A equipe da Suécia, terceira na prova do pentatlo, foi desclassificada. A ingestão de bebida alcoólica entre os atletas do pentatlo era comum, com a justificativa de "relaxar" antes das provas de tiro. Liljenvall, porém, tinha uma concentração da substância muito superior ao limite aceitável. Ao falar sobre a bebedeira, ele disse que só havia bebido "duas cervejinhas".
Outro recorde "eterno"...
 
Além do recorde mundial de Bob Beamon no salto em distância, outra marca que durou por anos foram os 9s95 de James Hines (EUA) nos 100 m rasos, na primeira final exclusivamente negra da história. O recorde só foi quebrado 15 anos mais tarde, por Calvin Smith (EUA).
 
...porém irregular?
 
Especialistas atribuem a chuva de recordes (68 mundiais e 301 olímpicos) a erros dos juízes na leitura da velocidade do vento. O argumento é a velocidade de exatamente dois metros por segundo (limite para homologação de uma marca) no salto de Robert Beamon.
 
Heroína ou vilã?
 
Apontada como causadora de recordes, a altitude foi vilã na longa distância. O ouro dos 5.000 m veio com tempo inferior ao vencedor de 1952. Nos 10.000 m, o tempo foi o pior dos últimos 20 anos, e o recordista mundial, o australiano Ronald Clarke, desmaiou ao cruzar a linha de chegada.
 
Você sabia?
 
  • Nos primeiros Jogos Olímpicos na América Latina, foi feita uma homenagem ao descobrimento do continente. Até o México, a tocha seguiu a rota feita pelas caravelas de Cristóvão Colombo.
     
  • No salto em altura, Richard Fosbury (EUA) foi ouro com uma nova técnica, o estilo Flop, em que o atleta salta de costas e passa a cabeça antes das pernas pelo sarrafo. O novo estilo passou a ser usado por todos os saltadores.
     
  • O México obteve o pior rendimento de um país anfitrião em Olimpíadas. Conquistou apenas nove medalhas (três ouros, três pratas e três bronzes), ficando em 15º lugar. O segundo pior anfitrião foi a Inglaterra, em 1948, com a 12ª posição.
     
  • Ion Drimba, medalha de ouro na esgrima, no florete, fugiu do comunismo e veio para o Brasil. O romeno trabalhou com a seleção masculina, estabeleceu residência em Minas Gerais e morreu, sexagenário, em 2006.
     
  • A medalha de prata de ciclismo na prova de contrarrelógio foi conquistada pela Suécia. O curioso é que o time escandinavo era composto por quatro irmãos: Erik, Gosta, Sture e Thomas Pettersson.
     
  • Nas provas da natação, a protagonista foi uma infecção estomacal que derrubou grande parte dos nadadores, entre eles o supercampeão olímpico Mark Spitz (EUA), que, mesmo doente, foi ouro no 4 x 100 m e no 4 x 200 m livre, prata nos 100 m borboleta e bronze nos 100 m livre.

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